2006/06/30

Fruta

Novamente em torno da fruta*, parece que há uma nova maneira de descascar laranjas: Quanto a mim, prefiro-as cortadas aos gomos, ainda com casca, o que não só dá menos trabalho e evita sujar as mãos, como permite saboreá-las melhor.

Foto enviada pela Cláudia.
*O tomate também é um fruto, para quem não sabe. Os ovos não são frutos, obviamente.

2006/06/28

Jammed

Tenho a mania de pensar em inglês, principalmente quando se trata de emoções e estados de espírito. Sai-me melhor, mas uma coisa é certa: os tipos têm, muitas vezes, a palavra certa. Neste caso, estou feita em papas e apenas porque levei, dentro de Lisboa, uma hora e meia a fazer um percurso de quinze quilómetros em linha recta. Sendo que costumo levar o mesmo tempo, mais coisa menos coisa, de Lisboa a Sines, sem me esticar na velocidade, é coisinha para estar esborrachada como uma fruta metida em calda de açúcar a ferver. Nem me consigo mexer.
Foto daqui

E por falar em ovos...

... este está a ser um excelente ano para os tomates.

Há muito tempo que não encontrava bons tomates em Lisboa. Daqueles sumarentos, carnudos, apetitosos, cheios do sol que os amadurece na horta. Muito diferentes dos tomates criados em estufa, de tamanho normalizado e a saber a... nada. Absolutamente nada.

Este ano, tudo mudou. Os bons tomates voltaram à capital e eu já não preciso de esperar que me tragam do Algarve profundo o ingrediente principal do meu prato preferido: sopa de tomate. Que é, sem sombra de dúvida, a melhor sopa de tomate do mundo.

Finalmente, em vez de ter que ir à procura de bons tomates pelo país fora, eles quase me caem no prato. Já não era sem tempo.
Foto daqui

2006/06/27

Ovos

I Need The Eggs

Alvy Singer: I though of that old joke, y'know, the, this, this guy goes to a psychiatrist and says, "Doc, uh, my brother's crazy. He thinks he's a chicken." And, uh, the doctor says, "Well, why don't you turn him in?" And the guy says, "I would, but I need the eggs." Well, I guess that's pretty much how I feel about relationships. Y'know, they're totally irrational and crazy and absurd and, but, uh, I guess we keep going through it because, uh, most of us need the eggs.
Annie Hall (1977)
Daqui

Preciso dos Ovos
Alvy Singer: Pensei naquela velha piada, sabes, o, um, um tipo vai ao psiquiatra e diz, "Dr., ahn, o meu irmão é maluco. Pensa que é uma galinha." E, ahn, o médico diz, "Bem, então por que é que não o denuncia?" E o tipo diz, "Até fazia isso, mas preciso dos ovos." Bem, eu acho que isso é mais ou menos o que eu penso das relações. Sabes, são totalmente irracionais e loucas e absurdas e, mas, ahn, acho que continuamos a metermo-nos nelas porque, ahn, a maioria de nós precisa dos ovos.

2006/06/26

Being Wild(e)

'— (...) Somos castigados pelas nossas renúncias. Cada impulso que tentamos estrangular germina no cérebro e envenena-nos. (...) Nada mais permanece do que a lembrança de um prazer, ou o luxo de um remorso. A única maneira de nos livrarmos de uma tentação é cedermos-lhe. Se lhe resistirmos, a nossa alma adoece com o anseio das coisas que se proibiu, com o desejo daquilo que as suas monstruosas leis tornaram monstruoso e ilegal. (...) É também no cérebro, e apenas neste, que ocorrem os grandes pecados do mundo.'
Oscar Wilde, O Retrato de Dorian Gray
Copiado daqui

2006/06/22

Verão I

Começou ontem e só me lembrei dele quando já era hoje. Talvez porque os meus verões têm sido iguais ao resto do ano, de há uns anos para cá. Sem histórias para contar, momentos gloriosos para recordar, sem fotos de paixões guardadas em caixas de recordações.

O que guardo do Verão são ainda as memórias da infância, de amoras colhidas no campo e enfiadas em palhinhas, à laia de chupa-chupa. De banhos na ribeira. De pés enfiados na água fresca do poço que corria nos regos da horta. De tardes na eira a debulhar feijão e milho.

Do pavor que sentia quando via a prima ou a avó com um molho de couves debaixo do braço, para fazer caldo verde, que me enfiavam à força pela boca abaixo, segurando-me o nariz entre dois dedos para que a abrisse. E ainda hoje os farrapos de couve me fazem cócegas na garganta.

Do atalho até à vila, atravessando a ribeira a saltar sobre pedras estrategicamente colocadas a fazer de caminho.

Do cheiro a massa de bolo da prima Maria Amélia, das escadas intermináveis até à casa desta, que a meio tinham uma porta para um irresistível parque de diversões formado por um armazém de esponjas.

Dos anéis feitos na bigorna a partir de cravos*, oferecidos pelo latoeiro da terra aos meninos da cidade. Do fascínio pela música da chapa quando abanada.

E também da fabulosa cozinha escondida por um alçapão na casa de outra prima, nas traseiras da igreja, que parecia tirada de um livro de aventuras. E que ainda deve existir.

Do medo que tinha que os chinelos de enfiar no dedo me dividissem o pé a meio de tão íngreme que era a descida. De que ainda não me libertei.

Das tardes na piscina inventada por uma represa na zona mais larga da ribeira. Dos caminhos e hortas que se tinham que atravessar até lá para encurtar o caminho.

Era tudo tão simples e tão puro. Não se dependia de amores, paixões, dinheiro, datas, agências de viagens, quarto single ou quarto duplo. Era apenas o Verão, fora da cidade. Que agora, aparentemente, já não nos chega.

Foto daqui
*Pregos usados para ferrar os cavalos

Faz-me um favor

Agora que já sei que nunca seremos mais do que amigos distantes, faz-me um favor: arma-te em sacana insensível, trai-me, mente-me, sê o pior crápula que conseguires ser, faz tudo para me ferires de morte, ignora-me, não me ligues, finge que nunca me conheceste e que nada se passou do que se passou. Faz isso tudo para eu conseguir esquecer-te de uma vez, para te despejar no canto dos indesejáveis, para eu querer desejar-te a morte ou, antes, um destino muito infeliz. Faz com que eu consiga dizer que te odeio, que tenha vontade de te insultar, de denegrir tudo o que és, de arruinar a tua vida por vingança. Vá, faz isso por mim, e deixa de ser a pessoa mais incrível, carinhosa, compreensiva, adulta, estável, sonhadora e divertida que conheci nos últimos tempos. Faz isso, ou não vou conseguir tirar-te de mim.

2006/06/21

Coincidências

"Speak only when you can improve on silence."
Fui espreitar um link que encontrei aqui ao lado e dei com este conselho de Buddha, que vem, obviamente, atrasado e, ao que me avisaram, com vírus.

Mais do mesmo, ou a palavra certa

As línguas têm destas coisas e, em português, às vezes não se encontra a palavra certa. Talvez tenha sido por isso que usei a expressão "I'm in love" quando poderia ter usado "Estou apaixonada". Às vezes as coisas soam-me melhor em inglês, mesmo a trabalhar. E é tramado, porque nesse caso eu tenho mesmo que escrever na língua que cá se fala. Mas adiante.

O que interessa agora é que o sentimento não é de paixão, mas sim um caso grave de infatuation. Que não existe (correct me if I'm wrong) em português. E que significa estar inspirado por um intenso mas curto estado de paixão ou interesse por alguém. Indo mais longe, até ao latim, na sua origem está um estado de tolice, de profunda tonteria que só nos pode toldar os sentidos.

Por isso, aqui fica a correcção:

I'm infatuated. And still scared shitless.

Reconsiderações sobre o mesmo post

Foto daqui

Eis que me encontro a querer escrever sobre outras coisas que me tocam, como barbies trabalhadoras e burguesas do subúrbio cujos ideais se goraram, e dou por mim a não conseguir fazê-lo porque só penso numa coisa: um homem. De cujos sentimentos nem sequer tenho a certeza.

Mais uma vez, excedi-me no entusiasmo e vim a público revelar os meus sentimentos. Se calhar até é bom gritar aos sete ventos o que sinto, mas depois surge o eterno receio de me ter revelado de mais, de ter mostrado de mim mais do que queria.

Então, o público fica à espera do desenrolar da história e, desiludida, não tenho mais nada para contar. E incentiva-me, aconselha-me, mima-me, e eu fico sem saber o que dizer, e com sentimentos contraditórios sobre se deverei ou não apaixonar-me de novo. Porque, além de cegar, o amor embrutece.

2006/06/19

Reflexão sobre um post apaixonado

Mais uma vez, o post anterior teria sido apagado não fossem os comentários matinais que foram feitos. A partir do primeiro, gerou-se a confusão e eu não tive coragem. Mas pronto, já está, já está e eu não sou mulher de voltar com a palavra atrás.

Estou apaixonada, ou pelo menos in love com a ideia de o estar. É o meu estado de espírito preferido e, apesar de o ter relegado para uma qualquer gaveta de sentimentos esquecidos, tenho vindo a recuperá-lo de novo, passando por alguns tropeções valentes e volte-faces menos agradáveis. Mas, no geral, gosto de me sentir assim. E é mesmo muito bom, Elisa.

Sim, Hipatia, o moço é tripeiro, mas eu não tenho problemas com isso. Gosto da pronúncia, gosto do carácter, gosto da gente do Norte (deve ser influência de alguns resquícios minhotos nos meus genes).

Não, Blahblahblah, não, Hipatia, não, S., não estou no Porto, mas conheço-o bem. Conheço alguns dos sítios de que me falam e outros ainda que, ao longo das muitas vezes que lá tenho ido, se entranharam na minha vida, como uma certa viagem de eléctrico da Baixa até à Foz ao pôr do sol ou uma tarde na Ribeira.

Já me apaixonei no Porto, já levei um amor para o Porto, e continuo a ter, no Porto, alguns dos meus melhores amigos. Melhor ainda, uma família inteira de gente boa, sempre acolhedora e excepcional. Volto lá sempre que posso, e estou cheia de saudades. Agora, então, que os encantos de um tripeiro me seduziram, mais vontade tenho de voltar.

E não deve tardar nada.

Viv'ó Porto.

I'm in love. And scared shitless.

2006/06/14

E choveu mesmo

Foto daqui

Não estava à espera de tanto. E, de qualquer forma, a ideia era que chovesse só até de manhã. Mas ela insiste, e tem andado por aqui, agora já sem trovões e relâmpagos, tanto quanto me apercebo por entre o som do rádio e de computadores.

Soube-me bem, ontem, estar deitada na cama, de onde só vejo céu, a observar os clarões a fazerem uma festa por trás das nuvens. Sim, esconderam-se, os sacanas, mas mesmo assim eu dei por eles. A chuva só veio bastante depois, grossa e apressada, fazendo-me levantar para a ver descer a rua, em gotas agrupadas num fluxo que arrastava óleos, terra e detritos. Sempre a eito, rua abaixo, até encontrar, mesmo lá ao fundo, o rio que passa debaixo da ponte, para lhe aumentar o corpo.

Mas, de manhã, devia ter ido dormir. Já está tudo lavado – carros, prédios, ruas – e a terra rescende a fresco, com o cheiro da horta da prima Carolina depois da rega, quando eu tinha 5 anos e a minha praia era uma ribeira para lá do milheiral, em cujas margens havia flores que, esfregadas, faziam uma espécie de sabão. Ao fim da tarde, passeava pelos regos de pés descalços a sentir a corrente da água tirada do poço, com a minha avó a gritar "Cuidado! Cuidado!"

Depois, era ir para casa, jantar e dormir. Como esta chuva já devia ter ido.

2006/06/13

Tomara que chova

Foto daqui.

A sensação de que me vão fulminar. Mais uma vez olhar-me como se fosse completamente anormal. Calar. Não contrapor. Não responder. Guardar para mim que gosto de dias assim. Em que o sol se fecha por trás de nuvens e faz destas as portas de um forno, do qual ele é o motor. Deixando-nos lá dentro.

De vez em quando, gosto de dias assim, cinzentos. As cores ficam mais intensas, os pormenores não são abafados pelo brilho. Custa a respirar. Mas não temos que nos esconder por trás das lentes dos óculos escuros. Podemos olhar para o céu. Ver aquela massa irregular de condensação. Montinhos e mais montinhos que parecem suportar o nosso peso, caso resolvêssemos saltar de um para o outro. Ilusões que se vão desfazer daqui a pouco. Cair sobre nós em estado líquido, aos poucos. Mostrando-nos que tudo é efémero. Principalmente as nuvens.

Raios. Por que é que é tão estranho gostar-se de dias cinzentos? Por que é tão difícil perceber que, para se saber que está sol, também é preciso saber que está chuva?

Sabem o que quero mesmo? Uma trovoada. Das grandes. Para arrefecer a terra e os ânimos. Para lavar este ambiente. Para criar um intervalo neste verão prematuro. Para mudar esta rotina de dias iguais. Tomara que chova. Até de manhã.

Faz hoje um ano

É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.
Eugénio de Andrade
19/01/1923-13/06/2005

Momento Popular #2

Ó meu rico Santo António,
que me tiraste do ninho
Volta já para a semana
Traz-me lá um amorzinho.
Não liguem, isto é a sangria a falar. Teve que ser bastante, primeiro para compensar os quase 200 degraus a subir, depois para ganhar coragem para os descer de novo. Ainda tenho as pernas a tremer. Mas valeu a pena, com manjerico ou sem ele. Valeu mesmo.

2006/06/12

Momento Popular




Inspirada pelos casos de sucesso de pelo menos duas amigas minhas, hoje vou ter com o santo casamenteiro a ver se tenho alguma sorte na vida. Talvez saia da Mouraria agarrada a um aromático manjerico, oferecido por outro. Ou talvez não.

2006/06/07

A hell of a day

Não acredito em superstições. Detesto crenças como a de que, se não olharmos nos olhos do outro quando brindamos, teremos não sei quantos anos de mau sexo. Abro chapéus dentro de casa (se possível, quando há alguém supersticioso ao pé). Não fujo de gatos pretos, antes pelo contrário. Quando há uma escada no meio do caminho, só me desvio se não for absolutamente possível passar por baixo dela. Ainda não percebi o significado de bater na madeira. Digo palavras como cobra e azar sem sequer pensar duas vezes. Adoro que o mês comece ao domingo para me garantir uma sexta-feira 13. (Por falar nisso, acho que o problema de sentar esse número de pessoas a uma mesa só tem que ver com o facto de os serviços serem feitos para 12 pessoas.)

Sou capaz de deitar pão fora sem pedir perdão a quem quer que seja, e entornar vinho na mesa, ou passar o sal assim e assado não têm qualquer significado negativo para mim. Esconjuro os meus demónios com força de vontade e raciocínio lógico, sem
a ajuda de amuletos ou de orações. Acredito firmemente que só eu me posso perdoar a mim mesma, e que nenhum ser sobrenatural pode dominar a minha vida.

Por isto tudo, quero lá saber se o dia que passou foi o dia da besta. Que besta? Que religião é esta que inventa papões para atormentar quem segue o instinto? Que oferece perdão unicamente a quem a ela se submeter?

Diabo? Anticristo? Inferno? Com ele ou sem ele, o dia hoje correu-me extremamente bem. Tenho um saquinho cheio de ilusões, a brilhar de novas e a trazer-me muita luz.

Foi, realmente, um dia dos diabos!

2006/06/06

Interruptor

"A ilusão é luz, a desilusão breu".
Pascal
Haverá alguma coisa no meio? Sinto-me na penumbra, a enfrentar diariamente uma desilusão e a tentar, a todo o custo, iludir-me de novo com algo que valha a pena. Queria poder ligar o interruptor da ilusão e quebrá-lo, para que nunca mais ninguém o possa mudar de posição. Face à impossibilidade de mudar a ordem das coisas, limito-me a coleccionar ilusões, na esperança de que o seu número se sobreponha ao das desilusões, para não deixar apagar a luz.

É isso, o meio que procuro está, neste caso, no desequilíbrio.

2006/06/03

Morning Glory

Hoje eu ia levantar-me cedo e fazer todas aquelas coisas que tenho vindo a adiar, mais algumas que não posso de modo algum deixar para trás. Ia fazer isto de manhã, aquilo à tarde e, se calhar, à noite, talvez ainda tivesse tempo para fazer mais qualquer coisa.

Acordei como sempre acordo, com o sol espraiado na parede em frente à cama. Hmmm, belo dia. Tomei o pequeno-almoço a fazer zapping pelos canais do Cabo e, de repente, ao passar pela 1, dei finalmente conta das horas. 13:07:37.

Mais uma vez, lá se foi meio sábado. Venha o resto.

To live is to suffer

To love is to suffer
Sonja
: Natasha, to love is to suffer. To avoid suffering, one must not love. But, then one suffers from not loving. Therefore, to love is to suffer, not to love is to suffer, to suffer is to suffer. To be happy is to love, to be happy, then, is to suffer, but suffering makes one unhappy, therefore, to be unhappy one must love, or love to suffer, or suffer from too much happiness, I hope you're getting this down.

Woody Allen, Love and Death, (1975)

E nunca ninguém há-de não sofrer enquanto vivo, porque viver é sofrer. Ou será que é amar? Às vezes, gostava de ser a minha gata.

Sonja: Natasha, amar é sofrer. Para evitar sofrer, não se pode amar. Mas, então, sofre-se por não se amar. Portanto, amar é sofrer, não amar é sofrer, sofrer é sofrer. Ser feliz é amar, ser feliz, então, é sofrer, mas sofrer torna-nos infelizes, portanto, para ser infeliz é preciso amar, ou amar para sofrer, ou sofrer de demasiada felicidade, espero que estejas a tomar nota disto.

2006/06/02

Kerouac

The only people for me are the mad ones, the ones mad to live, mad to talk, mad to be saved, desirous of everything at the same time, the ones who never yawn or say a commonplace thing but burn, burn, burn like fabulous roman candles exploding like spiders across the stars and in the middle you see the blue centerlight pop and everybody goes 'Awww!"
Jack Kerouac, On the Road