2008/07/31

Tudo o que é de mais

enjoa. Ou não. Apesar de um abuso poder ter consequências menos agradáveis, como passar um domingo de rastos no sofá (pronto, a ressacar, eu confesso), há coisas de que nunca nos fartamos. É por isso que já tenho as limas lá em casa. Só faltam os convidados. E uma semana para ir de férias.

Foto daqui.

Sushi, baby, sushi

Já não me lembro de quando foi a primeira vez, mas ainda nem sequer era moda. Foi no Bairro, na Rua da Rosa, sentada no chão como manda a tradição. Confesso que na altura só gostei mesmo das lulas, finíssimas e com um molho divinal que disfarçava qualquer aroma mais intenso a mar. Mais tarde, nova tentativa e nova constatação de que não gostava mesmo. Solução: optar pelos pratos cozinhados e tentar evitar perceber que os vizinhos do lado estavam a engolir fatias de peixe cru.
Mas o tempo é assim, e a insistência acaba por compensar. Há dois anos, mais ou menos, no aniversário de uma amiga, a alternativa ao sushi era... sushi. E foi aí que me apaixonei por estes rolinhos de arroz gelatinoso e avinagrado, recheados com peixe cru ou com vegetais e enrolados em pestilentas algas verdes. Que se mergulham em molho de soja e temperam com wasabi, de fazer trepar os incautos pelas paredes. Cujo sabor se vai cortando com pickles de sabonete cor-de-rosa, ou gengibre para as pessoas normais.
Hoje, ao jantar, para compensar o abuso de polvo bem português do almoço, vou-me vingar no japonês, regado com algum sake e uma grande dose de boa conversa. O Verão dá cabo de mim.
Foto daqui.

O Verão

dá cabo de nós. O Verão, ou o cheiro a férias, que não tardam a começar. Estou a gostar deste período pré-descanso, em que aproveito para me cansar ainda mais e conseguir assim que os dias inúteis me saibam melhor. O pior... o pior é o resto.

2008/07/30

Traveling light

Não sei viajar com pouca bagagem. Nunca consigo decidir o que é supérfluo e o que não é, e acabo por levar atrás de mim uma mala pesadíssima para onde quer que vá.
Por um lado, deve ter que ver com o nunca fazer planos, ou nunca ter feito. Na solução de recurso que são sempre as minhas férias, acabo por ir por arrasto e ter que seguir os planos dos outros e, por isso, há que ir preparada para qualquer situação.
Por outro lado, tem que ver com aquele ligeiro sentimento de perda que desde sempre se apodera de mim algum tempo antes da partida, que me faz sentir saudades ainda antes de sair a porta. E então, perco o meu tempo a despedir-me do que é meu, para deixar a certeza de que também voltarei, e a escolher alguns objectos eleitos para me acompanharem.
Desta vez, terei que deixar a bagagem mais importante para trás ou não terei tranquilidade. Custou-me decidir isto tanto quanto das outras vezes, ou até ainda mais, porque não tenho qualquer certeza do que deixo, muito menos do que encontrarei quando voltar, na prateleira onde o arrumei.
Desta vez, levo comigo um imenso vazio.
Foto daqui.

2008/07/29

Onde

é que eu vou este ano? Onde me levam os dias inúteis de férias, já que os de trabalho são úteis? Daqui a pouco mais de 8 desses dias, deixarei para trás a rotina dos dias de um trabalho que nada tem de rotineiro para sair por aí, num caminho que não inclui as cidades que ainda não conheci, uma viagem por um país encantado ou a semana ao sol banhada por refrescantes e animadoras caipirinhas. Há-de me valer o reviver de bons tempos em boa companhia. Hão-de valer-me os meus livros e a minha máquina fotográfica. E hão-de valer-me os sonhos que sei que um dia realizarei.
Foto daqui.

2008/07/28

Flowing

Ontem aprendi que o amor é como um rio. Temos que o deixar fluir, compreender que nós somos pedras que rolam no seu curso, seja este calmo ou tortuoso, e que, com o passar do tempo, vamos ficando redondas, sem arestas, e cada vez mais parecidas. E, no entanto, como descobrir, no meio das pedras todas, aquela que fará connosco a travessia até ao mar? E, se a descobrimos, e ela fica pelo caminho ou, ainda, decide mudar de rumo? E eu, seixo que me moldei a outro seixo, num curto percurso apressado, que faço eu sozinha e desgastada? Como me poderei moldar a outro se já nada tenho para limar?

Foto daqui.

2008/07/25

Inside

"Não podes fechar a tua porta àquilo que já entrou."
Graham Swift, The Light of Day

Deve ser por isso que o amor que te guardo nunca mais sairá de mim.

"You can't lock your door against what's already inside
"
Foto daqui.

2008/07/22

If in doubt


“A coward is incapable of exhibiting love; it is the prerogative of the brave.”
Gandhi

1) Se tiveres dúvidas, ama.
2) "Um cobarde é incapaz de exibir amor; essa é uma prerogativa dos corajosos."

2008/07/21

Ricochete

Segundo Buddha, “Agarrarmo-nos à ira é como pegar num pedaço de carvão em brasa com a intenção de o atirar a alguém; somos nós que nos queimamos.” Que é como quem diz, quando se está de mal com alguém, o melhor a fazer é atirar amor, pois se fizer ricochete, não nos magoará ao atingir-nos. Que é como quem diz, ou estou a ficar mole, ou deve ser da idade.
Foto daqui.

2008/07/17

Não receies

Não temas. Escrever sobre o amor que senti (e parte de mim, a que te escreve, ainda sente) foi o melhor que me pudeste deixar. Não receies. Nunca direi o teu nome (nunca disseste o meu), como nunca o disse enquanto o rodeava com outras palavras (por não querer dizer aquele que não é o teu). Não temas. Não são loucura ou obsessão estas palavras. São saudade e melancolia, ternura e uma vida nova todos os dias, desde que te foste. Se a incapacidade física de me amares suplanta o que sei que sentiste, fica onde estás. Fica aí e eu aqui, a registar diariamente o meu amor por ti que é tão só o meu amor por mim. Não receies. Não me aproximarei mais que as minhas palavras.

2008/07/16

Vazio

"La douleur, c'est le vide."
Jean-Paul Sartre

E a dúvida, a ausência, o silêncio. A recusa, a negação. A perda. Sobretudo a perda.

"A dor é o vazio."

Move On

Ontem, uma pessoa muito importante para mim, dizia-me: “… parece que estamos condenados a não saber bem porquê um número de coisas.” E isso deixou-me a pensar se há sentido em tentar descobrir as verdadeiras razões ou se devemos simplesmente esquecer e (excuse my French) move on. Mesmo que leve a bagagem toda atrás.

2008/07/15

Candlelit Dinner

Hmmm.. uma surpresa, ontem, ao chegar a casa. À porta, à minha espera. A notícia. Hoje vai ser diferente. Subir as escadas, degrau a degrau, depressa, para não perder mais tempo. Enfiar-me na cozinha, a fome e a ânsia, juntas. Entretanto, encher a casa de velas, para o ambiente. Uma olhada ao fogão, enquanto se põe a mesa e se abre o vinho, para ir bebendo enquanto se cozinha. Um último telefonema.
– Estou ocupada. Hoje é à luz de velas. Sim, velas.
Do outro lado, a pergunta:
— É com o…?
E eu, com uma gargalhada:
— Não, não. Isso queria eu. É só comigo, como de costume. Não há luz.
Felizmente, houve luar.

Foto daqui.

2008/07/11

Ou então

Deve ser do dia. Quero que seja só do dia. Esta angústia deve resultar deste tempo abafado, deste tecto de nuvens indecisas, de um cinza-esbranquiçado, aqui tão perto que só deixa ver o azul em rasgões pontuais, lá do outro lado do rio.
Ou então.
Eu sei que não é o tempo. E desta vez não é a saudade. Nem tu. Nem a tua ausência. É o ter chegado ao limite e saber que, ao rebentar, vou levar tudo à frente. Até o que não quero. E isso não.
E então.
Tu aqui, ao meu lado. Sem estares, mas estando.
— Calma. Não faças nada. Eu estou aqui.
E eu saber que não deixas que o faça, apenas porque eu não faço por tu achares que não devo. E tu é que sabes. Eu sei.

Foto daqui

Porque foste

Porque foste na vida a última esperança
Encontrar-te me fez criança
Porque já eras meu, sem eu saber sequer
Porque és o meu homem, e eu tua mulher
Porque tu me chegaste
Sem me dizer que vinhas
E tuas mãos foram minhas com calma
Porque foste em minh'alma como um amanhecer
Porque foste o que tinha de ser

Vinicius de Moraes

2008/07/10

Bliss

Porto de Mós, Junho de 2008

Houve dias em que descia com a desculpa do vício apenas porque era enorme o que sentia e apetecia-me cantá-lo a tudo e todos.
E sabia que, mesmo que o fizesse não chegaria, pois era tão forte que sufocava.
E tão fraco, todavia, que foi quebrado, num momento só, sem que o perdesse todo.
E agora desço, com a mesma desculpa, mas para ouvir os pássaros, aqueles que nos anunciavam, de madrugada já, que eram horas de nos separarmos e fazer do dia noite.
E volto a sentir, por vezes, sem que o encoraje, esse nó que cresce sem controlo, essa plenitude imensa que me eleva acima dos mortais e me protege de quem não entende como é possível amar assim.
Um sonho, apenas um sonho.
Tu. My bliss.

*Bliss – felicidade suprema; êxtase.

2008/07/09

Experiência

"Experience is not what happens to you. Is what you do with what happens to you."*
Aldous Huxley

Só porque me apetece e porque este senhor foi um génio e porque acho que isto é mesmo verdade (e não me venham com tretas que são mais experientes que eu porque já passaram pelas coisas e eu não, porque afinal muitos do que o dizem não aprenderam nada com aquilo por que passaram e continuam a fazer a mesma asneira uma vez após outra), apeteceu-me pôr aqui esta frase. Quanto a mim, tenciono descobrir coisas novas em cada cabeçada ou cada tombo que dê, para que da vez seguinte seja, se não menos árduo, pelo menos diferente. E também aprender a amar melhor com cada amor vivido e com cada amor perdido, para que possa sempre amar mais (não sei ser será possível amar mais do que te amei, mas pelo menos igual será) e ser mais amada (desta vez para sempre, se é que há um sempre – eu acredito que sim). Nem que seja só por mim.

*"Experiência não é aquilo que te acontece. É o que fazes com aquilo que te acontece."

2008/07/06

Little Black Dress

Não há como o Verão para poder fazer isto. O inesperado, o surpreendente, as decisões no calor do momento têm o poder de nos animar. E de, certa forma, preencher aquele vaziozinho que há muito nos incomoda, aquela fresta por preencher que deixa entrar os arrepios da monotonia, da melancolia de termos sido rejeitados. Mais uma noite de fim de semana em casa, não. Mesmo que já depois do sábado ser domingo, nos primeiros minutos mesmo, se decida "Vamos lá então! É só mudar de roupa e estou a caminho". E, como é Verão, enfia-se um vestidinho, dão-se uns últimos retoques, acrescenta-se um pormenor e vai-se ao encontro do aparentemente desconhecido. Mesmo que não se faça nada de especial, mesmo que os planos acabem por sair ao contrário, sabemos que estamos vivos e que há alguém que nos ouve. Depois, regressa-se a casa, o céu já daquela cor que antecede a manhã. E que eu gostaria de, um dia, ter partilhado contigo.

2008/07/04

Maré

Há quem sinta que, por vezes, vinda do nada, abater-se sobre si uma tragédia e, frequentemente, o desespero chega a fazer desejar que a onda o arrastasse também. Para não enfrentar a perda, para não se deparar com a destruição do seu pequeno mundo, da sua praia, enfim, para não ter que reagir. Mas é preciso lembrar que o mar, e a vida com ele, são feitos de ciclos. Se o tsunami se abate sobre nós, sabemos à partida que não ficará para sempre; volta para trás, como qualquer onda, como todas as marés diariamente sobem e descem. E, como os marinheiros, devemos saber aproveitar o bom e o mau de uma e outra. Se não podemos fazer-nos ao mar, descansamos, reparamos as redes e o navio. Noutro dia pescaremos.
As águas que nos inundam também não trazem só destruição. Muitas vezes, ao baixarem, arrastam com elas destroços que não nos interessam e, algumas vezes, mais do que pensamos, trazem com elas tesouros que nunca pensámos encontrar. Basta-nos saber procurar e aproveitar para fazer da nossa praia o que sempre quisemos que fosse. Mesmo que para isso tenhamos, que por uns tempos, fechar as suas portas.
As minhas, apesar de não ter ocorrido uma catástrofe, apenas uma má maré inesperada, vão permanecer abertas. E continua a haver espaço para que, um dia, o mar me devolva o que me levou, quem sabe de uma outra forma qualquer que ainda não adivinho. Entretanto, vou recolhendo os destroços, plantando novas sementes e reorganizando o meu espaço. Sem me render.