2007/02/19

E é só isto que importa

E em resposta a um desafio da Hipatia, aqui fica um dos meus posts preferidos, até porque a primavera tarda e eu ainda não tenho o que quero:

Era só isso

Era só isso. Um atrasar de passo, que os teus são mais longos que os meus, um parares ao pé de mim, exactamente ali, naquela esquina. E, sem eu te dizer, perceberes porquê. Tu saberes que eu não resisto ao apelo da terra, tu entenderes que eu preciso de parar para absorver as coisas, para as tornar minhas. Saberes que preciso de ir devagar para levar os cheiros, as cores, os gestos, os pormenores comigo. Tu saberes que me demoro a olhar a sombra do meu pé antes de o pousar no chão, a contar com os olhos os tufos de flores rebeldes no relvado cuidado do jardim, elas que se recusam a não florir ali, e que são como eu, que não me resigno. Tu saberes qual é a minha cor de céu preferida e que é aquela do fim do dia, um azul meio turquesa, meio petróleo, e Vénus a piscar para mim, às vezes a lua já a espreitar. Tu saberes que gosto do teu braço à minha volta, e de encostar a cabeça a ti enquanto caminhamos. E tu parares comigo ali, naquela esquina, de uma rua qualquer, a sentir o primeiro cheiro da primavera num fim de tarde de Março, para o levarmos connosco para casa. A nossa casa. Era só isso, era só isso que eu queria.

2007/02/15

É hoje, é hoje.

Nas nossas vidas, precisamos de pessoas assim. Que dão, que compreendem, que estão, que nos recebem sempre de braços abertos, mesmo que seja num só telefonema. Que são simples, embora se afirmem complicadas. Que sabem quais são os valores essenciais e não precisam de se perder em teorias alheias para encontrar o sentido da vida. Que vivem, e pronto. Que não nos exigem mais do que somos para estarem do nosso lado, ao nosso lado.
Ela faz anos hoje e não resisto, mesmo antes de falar com ela, a elogiá-la publicamente. Parabéns, môri!

2007/02/09

Boooooommmmmmmm!

Querem relógios ou água? Lisa ou com gás? Muito ou pouco carbonatada? É que depois de horas sem fim a ler e escrever sobre medicamentos, águas, índices glicémicos e tantas outras coisas (de que o cansaço mental já não me deixa lembrar), eu estou quase sem capacidade para vir aqui "postar".
A verdade é que ando cheia de ideias, mas não consigo pô-las no papel. De projectos cujos primeiros passos não consigo sequer pensar em começar a pôr em prática. De promessas à minha sobrinha que não arranjo tempo para cumprir. De fins de semana que também são princípios porque se começa a trabalhar logo ao domingo. Ou se tem só este para descansar. (Já no próximo, é deitar a água fora e acabar de dar corda ao relógio, num tiquetaque infernal de bomba prestes a explodir.)
Ai querem que eu escreva? Eu também quero. E também quero não trabalhar todos os dias das 10 às 20:30 ou mais sem receber mais por isso. Ter fins de semana completos. A certeza de que posso combinar alguma coisa e cumprir, mesmo se não chegar à hora exacta. Ter a cabeça arejada para me poder divertir e pensar em mim. Para tratar de mim. Para gostar de mim – porque neste momento começo a não gostar de uma pessoa que come e cala, que aceita tudo sem questionar, que assiste a injustiças umas atrás das outras sem reagir e que deixa o tempo correr sem perceber que ele passa. E tempo, novamente, lembra-me relógios. Que são já no próximo domingo. Para segunda. Tiquetaque. Tiquetaque. Tiquetaque. Tiquetaque. Até rebentar.
Boooooommmmmmmm!

Foto daqui.

2007/02/01

Ausência

E ela diz que eu tenho andado esquiva. Com uma certa razão, porque as minhas passagens por aqui têm sido curtas ou, então, aproveitamentos de sobras à laia de roupa velha em dia de Natal. Um dos motivos é muito simples: o frio, que me afasta deste teclado até para conversar. Não aguento esta friagem (neste momento tenho as mãos a enregelar e o corpo começa a tremer-me de frio apesar das três camadas de roupa, que incluem uma camisola de malha polar), e até já houve quem assistisse a alguém de camisola de lã+pijama+manta enrolada num sofá dentro de uma casa num clima moderadíssimo por alturas da passagem de ano (mas que parece não se lembrar).
Outro motivo é o cansaço, que se deve não só ao excesso de trabalho (desde que vim de férias tive direito a um fim de semana completo para descansar, porque tive que trabalhar sábados e domingos depois de uma série de noitadas durante a semana) como também a uma anestesia geral*, que acaba por nos deixar igualmente exaustos.
Finalmente, os motivos de inspiração resumem-se a disparates tão grandes, tão grandes que seria patético e até talvez perigoso estar aqui a relatar o que me tem zurzido os ouvidos, já sem dizer que podia correr o risco de ter alguém a dizer que tenho um blogue que é só fel.
Enfim, quando as temperaturas amainarem, estarei de volta com mais regularidade. Até lá, vou tentar manter presença sempre que tal se justificar.
Entretanto, ando entretida** a pensar no presente que hei-de encomendar ao coelhinho da Páscoa, desta vez com mais tempo, porque depois da desilusão do Natal passado, está mais que provado que o senhor das barbas brancas e das renas não existe. Só existem designers que acham que tablóide quer dizer tabuleiro***.

*Nada de grave, está tudo bem, só não estou pronta para outra porque não me apetece mais nenhuma.
**Não é erro, é propositado.
*** Não resisti a uma pitadinha de veneno (ou o tal do fel).