2006/04/30

Blogueio

Estou blogueada. Preciso de parar para pensar, preciso de não escrever tudo o que me vem à cabeça. Preciso de temperar o que digo, mas não sei bem com quê. Ainda não descobri a receita, e não há livros que ensinem este tipo de culinária. Só posso ser eu, e ultimamente têm sido tentativas atrás de tentativas. Tudo para o lixo. Chego aqui, misturo umas palavras, mexo bem, cozinho e trago à mesa. No outro dia de manhã, acordo bem cedo a pensar no assunto, venho a correr para o teclado e provo mais uma vez. Para além de estar frio, não tem o sabor que queria que tivesse. E lá vai tudo para o lixo. Sem pensar duas vezes.

Hei-de voltar. Talvez já amanhã.

2006/04/27

Finalmente

Estou quase igual. Só não uso saias tão curtas nem sapatos brancos. Continuo a adorar trepar a rochas, mexer em água corrente, observar carreiros de formigas e fazer apenas o que me apetece. A nuvem de cabelo incontrolável continua cá. Mas já não fico bem nas fotografias.

...rinta!

Já tá! Não doeu nada. Sou uma respeitável senhora de Q·u·a·r·i·n·t·a anos. Não quarenta. quarinta, porque um número é apenas um número, e eu faço dele o que quiser.

2006/04/26

Qua...

...se. Está quase lá. Faltam uns minutos. Para ser precisa, umas quantas horas. Quase sete. Mas é só o que falta. Já me passou a ansiedade, aliás, não mudamos de um dia para o outro. Pelo menos nós, para nós. Mas como eu sempre digo, basta-nos decidir ser mais alguma coisa. E eu creio que sou. E gosto cada vez mais do que sou.

Ah pois é, houve uma revolução, não foi?

Parece que sim. Na minha família também. Partiu-se em dois. Os excessos cometidos pelos ardores da revolução levaram a que a minha família emigrasse. E foi muito doloroso, na altura, deixar de ter com quem passar o Natal, os aniversários, as férias...

De resto, e apesar de ter sido essencial e inevitável, nada mais significa para mim? Cravos? Não gosto, muito menos do cheiro. Liberdade? Será que alguém já percebeu onde começa e acaba? Respeito? Ficou pelo caminho. Tolerância? Deixem-me rir. Democracia? Talvez, mas sobretudo desigualdade.

Quanto a mim, os portugueses ainda não se libertaram do estigma do "lá fora é muito melhor" e, em vez de seguirem o exemplo, continuam a entronizar os outros em vez de deitarem mãos à obra. Muito se disse na altura da revolução, muito se continua a esperar... mas continuamos sentados, em contemplação.

Hoje, 25 de Abril, dei por mim a ir trabalhar sem remuneração, apenas porque uma estagiária a custo zero também lá estava, a tentar conquistar um contrato de seis meses. E porque naquela empresa nos agradecem com um "não fizeram mais que a vossa obrigação". E porque dizer não significa dar um passo largo em direcção ao despedimento.

Foi isto que se conseguiu?

2006/04/25

Welcome

Perda de tempo, foi o que foi. Mas por que levei eu tanto tempo a perceber que não tinha que ser perfeita? Por que levei eu tanto tempo a decidir viver por mim e não estar sempre dependente da opinião dos outros? Por que tive sempre tanto medo de dizer o que pensava, de admitir do que gostava, por que me escondi tanto?

Anulei-me, neguei-me, fechei a porta e agora está perra. Neste momento, quase 1 ano e meio depois de ter forçado a fechadura, destruindo-a para que nunca mais se fechasse, ainda só está entreaberta. Às vezes há quem espreite cá para dentro, mas a maior parte das vezes passa despercebida, como se aquela frincha fosse apenas um descuido. Outros, que convido, nem sequer se dão ao trabalho de a empurrar para tentar entrar.

É demasiado esforço, e é este não valer a pena que me custa.

Girls' Night In

Dantes, era a excitação da Girls' Night Out. Combinar, escolher a roupa, aprontar, sair pela noite fora para ver, ouvir, dançar e conhecer... Todos os santos fins-de-semana (que começavam à 4ª ou à 5ª) e vésperas de feriado, sem excepção, lá íamos nós, primeiro para o Bairro, mais tarde para a 24...

Agora, veste-se a roupa mais confortável possível, sem pensar muito no assunto, pega-se no carro e, de ano a ano, às vezes talvez um espaço de tempo maior, há uma Girls' Night In. Janta-se, contam-se num instante as últimas novidades, que são poucas, graças à rotina e parte-se para os novos assuntos que ocupam as nossas vidas: em vez de sonhos, problemas no trabalho, em vez de homens, hérnias, cálculos biliares e afins. A meio, sai-se para a varanda e assiste-se ao espectáculo que nos conseguiu reunir: o fogo de artifício em Almada, para comemorar o 25 de Abril. Ficamos à janela, longe da confusão e dos amassos do povo excitado pelo discurso da autarca e pelo concerto à borla, desejamos que seja bonito mas acabe depressa porque está frio e aquilo é pago com os nossos impostos e voltamos para dentro. Mais sofá, mais conversa, um concerto de Zeca Afonso nos anos 70, entre bocejos e olhos semiabertos... Mais um programa sobre o antes e o depois do adeus...

— Eu fiquei toda contente, naquele dia a minha mãe disse-me que não ia à escola porque havia revolução... tinha 8 anos, aliás, ia fazê-los dali a 2 dias... Usei um vestido vermelho, cujo tecido parecia um morango...
— Como é que tu tinhas 8 se eu tinha 11? Eu nasci em 66, e tu és da minha idade...
— Tinhas 11 anos? E nasceste em 66?
— Realmente, estava aqui a pensar como é que tinha 11 anos e ainda estava na 3ª classe...
— Sabes que mais? Vamos embora, vamos dormir que já não sabemos o que dizemos.

Eu até posso não sentir que estou prestes a abandonar os trinta, e não sinto mesmo, mas que sem eles nada disto aconteceria, é incontestável. E só falta pouco mais de um um dia e meio.

2006/04/24

Brain Jam

Dia surpreendente, o sábado que passou. Um dia de guardar segredo, porque há coisas que são mesmo só nossas, mesmo que nos apeteça gritá-las. Como não o posso, nem quero fazer, fico por aqui.

2006/04/22

T.G.I.F.

É isso. Mesmo sem acreditar no ser omnipotente que supostamente comanda o rumo do mundo, não posso deixar de agradecer, a quem* quer que tenha decidido que à sexta-feira se pára para descansar, a sua existência.

Amanhã, sem horários que me prendam, só vou fazer mesmo o que me apetecer. Que até pode ser nada. Por isso, Thank God It's Friday.

*Eu até ia procurar o autor da semana de 5 dias, mas neste momento não me apetece ir pesquisar o que quer que seja.

2006/04/21

Maus hábitos

Estou gasta. Esta semana devia ter acabado já hoje (ainda estou em quinta-feira). Já usei praticamente todas as energias da semana e, amanhã (sexta) ainda tenho que mostrar o que valho.

Sinceramente, devia haver um feriado todas as sextas ou segundas do mês, principalmente quando trabalhamos as 39 horas regulamentares em apenas 4 dias úteis. Ou então, não nos deviam mimar com páscoas, dias da liberdade, dias do trabalhador (e às vezes até pontes) e afins só de vez em quando.

Até porque isto de aproveitar o fim de semana para sair de Lisboa, estar com a família, passear com os gatos, ver coisas novas e outras velhas, matar saudades e amizades, enfim, não trabalhar, cansa. Cansa muito.

Por isso, feriados e pontes, ou sempre, ou nunca, para não quebrar o ritmo. Habitua-nos mal, ter mais tempo para descansar.

2006/04/20

Tumorezinhos de estimação

Ele há pessoas, que de há tanto tempo se relacionarem comigo, pensam que me conhecem. Enganam-se. Elas conhecem apenas a ideia que foram fazendo de mim ao longo dos tempos, sem nunca se terem preocupado em perguntar-me como me sinto, o que quero da vida, quais são os meus medos e os meus motivos. Apenas supõem.

Essas pessoas sabem sempre o que está por trás do que digo, do modo como reajo, da maneira como actuo. Sabem e não desarmam. Se estou com má cara, é porque estou com má vontade, mesmo sem saberem quantas lágrimas chorei antes de adormecer. Se chego tarde porque tive uma insónia, é certamente mentira, porque provavelmente estive a conversar na internet até altas horas. Se converso à parte com um colega que esteve fora 2 meses, é porque possivelmente estou a falar mal delas, assumindo, à partida, que há alguma coisa de mal para dizer.

Agora, sempre que me dizem que sabem perfeitamente por que foi que eu disse ou fiz isto ou aquilo, eu uso a palavrinha proibida que assusta qualquer mortal: tumor. São os meus tumorezinhos de estimação, que vivem no meu cérebro permanentemente e que, por isso, sabem tudo o que estou a pensar.

Que raio, para além de não conseguirem raciocinar fora do vosso mundozinho feito de ideias feitas, não percebem que incomodam?

Abaixo o grilo

Se há coisa no mundo que eu odeie, são grilos falantes. Sim, como aquele do Pinóquio, sempre a chamar-lhe a atenção, a dizer que as coisas são assim e assado e não podem ser de outra forma.

Desde pequena que não suporto que me digam “não vás por aí” sem me darem um motivo a não ser um “porque não deves”, “porque não é bonito”, “porque uma menina não faz isso”, “porque parece mal”. Não gosto, pronto.

Não quero dizer, de modo algum, que não aceite os motivos dos outros. Mas eu gosto, e faço questão, de descobrir por mim mesma, antes de comprar tudo o que me dizem. Arrisco-me? Pois sim, venham os trambolhões, as surpresas desagradáveis, as desilusões. Com tudo isso, aprendo e, fundamentalmente, sou eu, única, genuína, responsável pela minha vida.

Assumir uma atitude de grilo falante é, acima de tudo, pressupor que o outro, aquele a quem massacramos os ouvidos com expressões como “eu bem te avisei” ou “olha que…”, é incapaz e irresponsável. E isso é mesmo muito feio.

Bad day, bad day

A começar por ficar trancada na garagem logo de manhã,quando já estava pelo menos meia hora atrasada, até às suspeitas da minha irresponsabilidade a meio da tarde, não esquecendo as sucessivas desmarcações de horas de estúdio e o almoço de sande e sumo por elas causado, este dia foi para esquecer.

Sorveu-me as energias, as ideias e o último resto de vontade de tentar perdoar a quem teima, a todo o custo, em desacreditar-me profissionalmente.

Ainda por cima, amanhã há mais, porque as pessoas são as mesmas e os métodos os de sempre.

Resta-me esperar que se concretize o que disse, em tempos, a Silvia, "Toda a merda seca. E depois esfarela-se." Ele é dar tempo ao tempo.

Sim, Sílvia, andei a cuscar os teus posts antigos. E esta solução está pespegada na parede por cima da minha cabecinha, para me inspirar.

2006/04/19

Happy 41

À minha amiga Filomena, que anda na margem sul a lutar pela vida dela e pelos direitos dos outros, já para não falar dos pestinhas que atura diariamente, os meus Parabéns!

A burra presa (ou o dia em que perdi a minha mãe)

Os meus queridos progenitores têm a abjecta mania de simultaneamente me relembrarem de que tenho quase a tal idade e de me afectarem a responsabilidade de uma adolescente. Como tal, são inúmeros os episódios em que, precisando de mim, me mentem quanto à hora em que o importantíssimo evento familiar (vulgo almoço) vai acontecer, fazendo-me correr para depois ter que esperar pelo resto da família. Resultado: discussão atrás de discussão.

Certo dia, após 3 insistentes telefonemas para minha casa, lá saí eu a correr, direitinha a casa deles para os ir buscar para o almoço. A meia hora que tive que esperar redundou em nova discussão, para não variar.

Acabei por descer com o meu pai, pois ainda havia lixo para despejar. Entrámos no carro e, pouco tempo depois, ouço a porta por trás de mim a abrir-se, depois a fechar-se, liguei o carro e arranquei. Nos cerca de 2 km de subida que separam as duas casas, fui falando com eles, sem me surpreender com a falta de resposta da minha mãe que, sempre que discute comigo, prende a burra e se recusa a responder.

Entrei na garagem, fiz a manobra, desliguei o carro e voltei-me para trás para lhe dizer para sair pelo outro lado. Foi quando descobri que a tinha deixado na rua, sem chaves, sem dinheiro e sem telemóvel. A porta tinha-se aberto, sim, mas para ela deixar a mala.

A burra foi solta de vez, porque ela aprendeu que é muito feio não responder a quem fala connosco, a não ser quando somos pequeninos e é perigoso falar com estranhos.

De lavado

Que bom é o cheirinho a lavado, com ou sem sabão natural. Mas sem nódoas, e com um tom a condizer com o calor. Branquinho é bom, sabe a natas, a gelado de baunilha, ao meu copo de Vigor antes de dormir (e ao da manhã também). E sabe-me bem olhar para aqui e não ver tudo escuro, já que o que o espírito anda, por si só, enevoado.

Ele são as colegas a darem-me cabo dos nervos, um puto giro que me troca por uma mais nova, um quisto que me anda a dar dores de cabeça, uma vidinha que não anda para a frente nem para trás, um carro que anda tão para a frente que me arruína, 10 presentes para comprar daqui até 26 de Maio, não contando comigo, o chegar ao fim de semana tão cansada que só me apetece dormir, os filmes que ainda não vi por causa disso, os sítios onde ainda não fui...

Pois é, uma limpezinha sabe sempre bem.

2006/04/18

E-mail

Chegam a rodos. Piadas, piadinhas, filmes divertidos, outros menos, anúncios premiados, sequências de acidentes espectaculares, reflexões sobre a vida e a política, bocas aos políticos, correntes inquebráveis que satisfazem os nossos desejos mais íntimos se não forem quebradas, o que significa o seu reenvio para pelo menos 10 pessoas, fotos laboriosamente montadas em pesadíssimos ficheiros power point que me encravam o mac…

Todos os dias, ou quase todos, chega pelo menos um mail destes à minha caixa de correio electrónico. E, só de vez em quando, muito de vez em quando, chega um que me pergunta, simplesmente se estou bem ou que fala em vontade de me ver.

Chegámos a uma altura em que reenviar o que outros fizeram por nós, e que reenviaram para nós, é a única forma de dizermos aos amigos que estamos vivos. No entanto, nunca chegamos a saber se o destinatário o recebeu, porque é indiferente haver resposta ou não.

Se calhar sou exigente de mais, não me contento com saber que aquela pessoa que me enviou o mail se lembrou de me incluir na lista de destinatários. Se calhar penso de mais, se calhar sou eu que estou errada ao não fazer o mesmo diariamente.

Acho que não. Por mim, vou continuar a enviar apenas aqueles que considerar dignos disso, e também dar o primeiro passo para tentar manter contacto, com coisas que valham a pena dizer aos amigos.

2006/04/17

Home, incredibly sweet home

Cada vez me sabe melhor regressar a casa.

As minhas paredes vazias, o meu sofá, o meu computador, a minha cama, a minha powerbox, os meus livros amontoados por todos os cantos, o meu silêncio, o meu poder fazer tudo o que me apetece sem ser interrompida, o meu embrenhar-me nas páginas de um livro sem ser chamada para qualquer coisa que não é de todo importante...

Os mimos dos pais são bons, mas é aqui que eu consigo ser eu.

Fim de semana tudo-menos-santo

Mais uma vez, eu devia ter confiado no meu instinto. Está cada vez mais desenvolvido, fiável, este meu sexto sentido. Não devia ter saído de Lisboa este fim de semana. E muito menos sozinha.

Praia? No primeiro dia, nem apeteceu contemplar nada, de tanta chuva. Passeio com os gatos? E a lama no pêlo branco e nas patas? Amigos? Demasiado ocupados. Um dia perdido, uma sexta-feira que nada teve de santidade, seja lá isso o que for.

O pouco para fazer tornou-se nada, e o nada tornou-se muito em raciocínios desesperados sobre a vida que tenho, a vida que quis ter, a que nunca quis ter e que se parece demasiado com a actual…

De repente, aquele lugar que já foi tão meu, perdeu o encanto, ficou baço, já não me ilumina. Os sonhos que dele faziam parte desfizeram-se, as memórias são apenas fragmentos que já não conseguem reconstruir a história, ou o pouco de bom que esta teve.

Apenas o meu mar, o mar da fotografia, e um livro de Umberto Eco, salvaram, hoje de manhã, o último destes três dias.

2006/04/14

Praia!

Daqui a umas horas, assim que acordar, vou fazer a malinha, meter-me no carro e rumar a sul.

O meu mar, aquele mar que me faz tão bem está mesmo a pedir umas horinhas de contemplação (sem mergulhos, porque deve estar gelado). Depois, uma manhã na esplanada, com um café e uma água à frente a acompanharem o livro que vou devorar, vai saber que nem ginjas.

Ao fim da tarde, vou passear os gatos à volta do quarteirão (sim, eles passeiam comigo, voltam para casa quando os chamo e pedem-me para abrir a porta de manhã), depois janto e vou ao café reencontrar os amigos que não vejo desde Agosto.

Com tão pouco para fazer, mas tão bom, é garantido que volto bem disposta. Volto mesmo.

Me and my big mouth

Não há maneira de aprender. As pessoas são simpáticas para mim e lá vai resposta torta, sem motivo para isso. Mas também só acontece quando me tocam na ferida e porque não estou nos meus melhores dias. Ou seja, estou mais para baixo que para cima.

Preciso, desesperadadamente, de me apaixonar. Por alguém, pela vida, por mim, para que esse estado supremo anule qualquer influência negativa. Quando estou nas nuvens, estas até podem desfazer-se em raios e trovões que eu não dou por nada. Sou superior a tudo. Mas quando estou ferida, como agora, reajo como qualquer animal: mordo para me defender de mais agressões. Mesmo que estas o não sejam.

Já me desculpei directamente e faço-o agora em público, para o caso de me esquecer e de voltar a dar uma resposta torta a alguém. Assim, já sabem por que é, mesmo correndo o risco de ninguém se voltar a meter comigo.

Se eu fosse... e tu se fosses o que serias?

Se eu fosse...
Se eu fosse um mês, seria Setembro.
Se eu fosse um dia da semana, seria Quarta-Feira.
Se eu fosse uma hora do dia, seria meia-noite.
Se eu fosse um planeta ou astro, seria Vénus.
Se eu fosse uma direcção, seria aquela para onde estivesse virada.
Se eu fosse um móvel, seria um sofá.
Se eu fosse um líquido, seria água com gás.
Se eu fosse um pecado, seria a luxúria.
Se eu fosse uma pedra, seria lioz.
Se eu fosse uma árvore, seria uma faia.
Se eu fosse uma fruta, seria um morango.
Se eu fosse uma flor, seria um girassol.
Se eu fosse um clima, seria mediterrânico.
Se eu fosse um instrumento musical, seria um piano.
Se eu fosse um elemento, seria terra.
Se eu fosse uma cor, seria azul.
Se eu fosse um bicho, seria um gato.
Se eu fosse um som, seria um sussurro.
Se eu fosse uma música, seria "She", de Elvis Costello.
Se eu fosse um estilo musical, seria pop.
Se eu fosse um sentimento, seria paixão.
Se eu fosse um livro, seria... "Cem anos de solidão".
Se eu fosse uma comida, seria chocolate.
Se eu fosse um lugar, seria uma ilha.
Se eu fosse um gosto, saberia a baunilha.
Se eu fosse um cheiro, seria o cheiro a mar.
Se eu fosse uma palavra, seria "sentidos".
Se eu fosse um verbo, seria “explodir”.
Se eu fosse um objecto, seria um balão.
Se eu fosse uma peça de roupa, seria um roupão.
Se eu fosse uma parte do corpo, seria os olhos.
Se eu fosse uma expressão facial, seria uma careta.
Se eu fosse um personagem de desenho animado, seria "Jessica Rabbit".
Se eu fosse um filme, seria “Sem eira nem beira”.
Se eu fosse uma forma, seria um círculo.
Se eu fosse um número, seria o 5.
Se eu fosse uma estação, seria o Outono.
Se eu fosse uma frase, seria “Eu sou o que sou”.

Uma ideia original da Clementina Tangerina e copiada da Silvia sem Filtro.

2006/04/12

Resposta a um encoberto

Meu caro encoberto,

o corpo não passa de uma embalagem, uma aparência que, infelizmente, nos condiciona aos olhos dos outros. Faz parte da condição humana procurar o belo em detrimento do menos belo, somos formatados para isso desde que começamos a apreender o mundo. Cabe a cada um decidir ultrapassar a barreira, eliminar os filtros que lhe foram inculcados.

Quanto a um corpo novo, ele não existe. É absolutamente o mesmo. Nunca, desde sempre, e contra muitas críticas, deixei de fazer o que quer que fosse, nunca tive grandes inibições, nunca o meu corpo me impediu de nada. E se calhar é mesmo isso que irrita tanta gente.

É óbvio, claro, que custa passar uma vida inteira a não ter nome e ser conhecida como "a gorda", a ouvir nomes como "badocha", "baleia" e afins e ainda ouvir as palavras nojento, desmazelo e badalhoquice associadas ao excesso de peso. Dói mesmo muito quando os corpos perfeitos supõem que somos um bando de comilões que só sabe ficar deitado no sofá a enfardar bolos, chocolates e potes de gelado enquanto vê séries românticas e sonha com príncipes encantados e milagres impossíveis.

A felicidade pelo supostamente novo corpo só tem que ver com a possibilidade de finalmente sair do ghetto a que somos confinados por essa ditadura da imagem chamada moda. A partir de agora, tenho mais opções, não tenho que me limitar a uma ou duas marcas de roupa que ainda se lembram de que as pessoas com excesso de peso também gostam de vestir de acordo com a idade que têm (e não usar roupa igual à das avós) e que, por esse altruismo, cobram o dobro ou triplo do preço.

Estou feliz, sim, mas apenas porque ainda há pessoas que conseguem ultrapassar as barreiras e sabem que um corpo é muito mais do que só isso.

Roupinha nova


32
Originally uploaded by moritz™.
E corpinho também.

Não há nada melhor que ir comprar roupinha e descobrir que vestimos um número abaixo daquele que vestíamos há dois meses atrás. E ouvir alguém dizer que já não precisamos de comprar roupa nos tamanhos grandes, porque já somos pessoas normais. O pior de tudo é o entusiasmo que mostramos a abrir a carteira. Estou oficialmente arruinada. Mas feliz.

Mau contacto

Alguém me ajuda a desligar isto? Este sentimento de abandono que não me larga desde que o silêncio se instalou? Que, de boa vontade, deixei alguém partir porque sabia que era melhor assim? Só não esperava tanto mau contacto. Preciso de a arrancar da tomada, mas não quero cortar o fio. Seria ridículo desligar-me para sempre de alguém que me fez tão bem. De qualquer modo, preciso, definitivamente, de desligar esta corrente que passa por mim. Alguém me dá uma mãozinha?

2006/04/10

Desafinação

Aconteceu-me outra vez. Mal acordei, as palavras-acordes estavam perfeitas na prosa que compus. É todos os dias assim, começo a cansar-me de perder a pauta mental no caminho da cama para o teclado. Cheguei aqui e, pelo caminho, uns poucos metros, perdi meia dúzia de notas que, por mais voltas que desse, não consegui recuperar. E nada funciona quando há espaços em branco. Simplesmente, não faz sentido. Não o sentido que quero, não a melodia que compus assim que abri os olhos.

Adoro ficar deitada, depois de acordar, a compor os sonhos que queria ter tido durante a noite. A completar as histórias que me adormecem e que conto a mim própria em silêncio. O meu despertar é o melhor momento do dia, em que nada ainda desfez a glória de um dia novo. Quando há sol, os primeiros raios atravessam as frinchas do estore que deixo propositadamente entreaberto e pontilham de pequenas partículas de ouro a parede em frente a mim. Depois, é inevitável, viro-me e olho para as minhas mãos. Estão cá, mexem, estão prontas para criar em sintonia com a mente.

Mas quando chega a altura de as deitar à obra, por mais que elas queiram, perde-se a harmonia e simplesmente não sai nada. Ou sai desafinado.

2006/04/09

Alguém me agita?

Pronto. É isto, nada mais que isto. Traçado regular, nem uma ponta de emoção, nem um sobressalto de prazer. O meu coração bate assim, sempre ao mesmo ritmo, numa rotina que inquieta de tão instalada.

Apesar de serem boas notícias do ponto de vista da saúde, quem é que aguenta uma vida sem uma ponta de emoção, sem um acelerar devido à paixão? Olho em volta e nada o faz bater mais depressa. Assusta-me este não sentir nada, este não desejar ninguém, este não me entusiasmar. Eu não sou assim, não quero ser assim. E, todavia, até me sinto bem neste navegar sem ondas, neste rumar sem destino. Vagueio pela vida, apenas, sem ainda ter percebido para onde quero ir depois de já ter chegado aqui.

Preciso, mais do que nunca, de um abanão, de um grito que me acorde desta sonolência. Alguém me agita?

2006/04/08

Só para chatear

Só faltam


19


Só para mostrar que já aprendi a aumentar o tamanho da letra num mac, assim como a fazer outras coisas. E tudo graças à grande Sílvia, mesmo aqui ao lado.

Cópia

"Se há algo que queres muito atingir, tens de te tornar na pessoa capaz de tal atingir. Isso implica mudar, transformares-te. Não te enganes pensando que podes atingir tudo mantendo o mesmo modo de ser e sentir. Cada estado de ser contém a sua dose de limitações e liberdades."
copiado de animah, em (don't) call me back

Copiei porque é verdade, é mesmo. Eu sei. Ainda estou a meio do caminho, se calhar nem tanto, mas eu chego lá.

2006/04/07

Acho que sim.

Então Queres Ser Escritor?

se não vem de rompante de dentro de ti
apesar de tudo,
não o faças.
a não ser que surja sem o esperares do
teu coração e mente e boca
e entranhas,
não o faças.
se tens que te sentar durante horas
fixando o ecrã do computador
ou curvado sobre
a máquina de escrever
à procura de palavras,
não o faças.
se o fazes por dinheiro ou
fama,
não o faças.
se o fazes porque queres
mulheres na tua cama,
não o faças.
se tens que te sentar e
reescrever uma vez e outra,
não o faças.
se te for difícil sequer pensar
em fazê-lo,
não o faças.
se estás a tentar escrever como outro
qualquer,
não o faças.

se tens que esperar para que ruja de dentro
de ti,
então espera pacientemente.
se nunca ruge para fora de ti,
faz outra coisa qualquer.
se precisas de o ler primeiro à tua mulher
ou à tua namorada ou namorado
ou aos teus pais ou a outro alguém,
não estás pronto.

não sejas como tantos escritores,
não sejas como tantos milhares de
pessoas que se intitulam escritores,
não sejas chato e aborrecido e
pretensioso, não te consumas com
auto-estima

as livrarias do mundo
bocejaram
de sono
com o teu género.
não sejas mais um.
não o faças.
a não ser que saia da
tua alma como um foguetão,
a não ser que estar parado
te levasse à loucura ou
suicídio ou assassínio,
não o faças.
a não ser que o sol dentro de ti
esteja a queimar as tuas entranhas.

quando for o momento certo,
e se tiveres sido escolhido,
far-se-á
por si só e continuará a fazer-se
até que morras ou morra em
ti.

não há outra forma.

e nunca houve.

Charles Bukowski
de new poems book 1, Virgin Books, 2003

Belo dia para começar de novo. Já passa da meia noite e ainda estou na agência, à espera nem sei bem de quê. Por isso, pus-me a passear e dei com este poema, numa página que encontrei a partir de um link no There's Only 1 Alice.

É engraçado como sem querer, ou sem saber que queremos, encontramos inesperadamente coisas que nos dizem muito, que nos fazem perguntas em cuja resposta nunca pensámos. Não sei muito de Bukowski, como não sei de muitos outros, mas as suas palavras puseram-me à procura de sóis ardentes nas minhas entranhas e fizeram-me sentir que há qualquer coisa em mim cheia de vontade de sair. Ainda não sei o que é, não sei se serei chata ou aborrecida, nem se farei bocejar de tédio os livreiros e leitores, mas parece-me, cada vez mais, que a resposta à pergunta é sim. Acho que sim. Só estou à espera do momento certo.

(Na tradução há uma coisa ou duas que não me agradam, mas foi feita sem dicionário. Logo se melhora. Já agora, só faltam 20 dias.)

2006/04/05

Time to start anew

Menti. Afinal, o tal post não volta para aqui hoje. Nem sei se volta, pois não o encontro em lado nenhum. Se calhar, como digo às vezes, não o encontro porque não tem que ser, porque o seu destino era perder-se. Afinal, fala de um estado de espírito que já passou, que já não tem razão de ser e que não sei se voltará a repetir-se. Um “estado de patetice” típico de quem está apaixonado, de quem não quer fazer nada porque só lhe apetece pensar no que quer fazer com alguém.

Que feliz que eu fui nessa altura, que bom que era saber que alguém me queria. Que trambolhão, depois, ainda ando a recuperar dos arranhões na pele e das dores no coração. Mas, garanto, são daqueles que não deixam cicatrizes, antes uma sensação de ardor quando muda o tempo, não para o frio, mas para o calor. Verão bom, o do ano passado, em que sonhei, sonhei, sonhei e até acreditei que era verdade.

A partir de agora, não vou conseguir olhar para o mar sem me lembrar de uma certa onda, não posso ouvir algumas músicas sem pensar no teu nome e não posso ir de Lisboa ao Porto sem me lembrar de que um dia fiz um desvio a meio da viagem para conhecer a tua terra. São os tais borrões que ficam, deixados pelas palavras ditas.

Confio no poder do tempo e na falibilidade da memória para os disfarçarem, e confio também que um dia, alguém infinitamente melhor que tu me tornará cega a estas marcas. É tempo de começar de novo, e não vou esperar um dia, muito menos 21.

Irreversibilidade

No dia em que comecei a trabalhar, acabada de sair da escola, passaram-me para as mãos um trabalho importantíssimo: escrever uma carta com apenas 3 linhas de texto, para além do destinatário e da assinatura do remetente. É canja, pensei, sem saber que para além da folha A4 convencional, esta era acompanhada por 3 cópias em papel fininho, tipo vegetal, intercaladas por folhas de papel químico. Pois é, a canja azedou, e as tais 3 linhas transformaram-se numa epopeia de um dia inteiro. Ora não estava centrado na página, o que era difícil de calcular antes de tirar o papel da máquina ou, então, quando finalmente achava que o trabalho estava perfeito, à custa de fita correctora e fotocópia do original, os erros e manchas da passagem da borracha nas cópias a químico, continuavam lá.

É assim também com o que dizemos. O que é dito uma vez, não pode ser desdito. Podemos retractar-nos, voltar atrás, pedir desculpa, não pedir desculpa, passar a borracha, mas tudo o que dissemos fica. E o que escrevemos fica ainda mais. É por isso que é tão difícil isto de escrever. Um erro, um só erro, marca-nos e deixa marcas.

Quando apenas se diz algo, ainda há a esperança de que a erosão do tempo mude as formas às palavras, aligeire o insulto, modere a ofensa, pois a memória é falível e bondosa. Mas quando se escreve, não. Está lá, preto no branco, chegando a ser vermelho gritante quando o disparate é grande. A não ser que se destrua, não se pode retirar, não se pode apagar sem deixar vestígios.

Não é possível resgatar uma carta que seguiu pelo correio, não se pode interromper o caminho a um e-mail enviado, é pouco provável conseguir apagar um post que nos desvenda a vida antes que este seja lido por alguém que depois reclama a sua reposição.

Seja como for, comigo é assim. Está dito, está dito. Depois é assumir, sem remorso ou ressentimento. Se me arrependo do que digo? Às vezes sim, mas não retiro. Explico-me, desculpo-me se achar que devo, tento reparar o erro, se errei. Mas não volto as costas, não fujo, não minto, não dou desculpas esfarrapadas.

E deve ser por isso que me sinto só num mundo em que o disfarce, a dissimulação e hipocrisia reinam. Seja, se é assim que eu acho que devo ser.

Só faltam 22 dias. Quanto ao post retirado, regressa amanhã.

2006/04/04

Vá lá!

Escreve, vá lá, escreve qualquer coisa. Precisas de o dizer, diz. Pega nas palavras e põe-nas no papel.

Estou aqui há horas, nesta luta. Acontece-me todos os dias. Venho pelo caminho a construir a história, o texto, o desabafo. Falo sozinha enquanto conduzo, preciso de lhes ouvir o som, tal como preciso de as ver preto no branco para ver se fazem sentido. Porque há umas que não ficam bem ao pé das outras, e outras que se repetem sem sentido. Guardo tudo, num cantinho, estava lindo o que pensei pelo caminho, enquanto a única coisa em que me concentro é na traseira do automóvel da frente e a proximidade do cruzamento onde viro.

Quando chego a casa, uma casa vazia e silenciosa, é o vazio também. Foram-se as ideias, fica apenas a vontade de um toque na campainha, a campainha de um telefone a tocar para me dizerem "posso ir aí, quero ver-te, tenho saudades..." Estou farta deste exílio, desta dormência, destes silêncios. Será que ninguém, para além da minha família, se lembra mesmo de que eu existo?

Será por culpa de terem entranhado em mim a ideia de que não devo incomodar os outros que eu também não consigo procurá-los? Terá que haver uma culpa ou as coisas são mesmo assim?

E então vem a voz, escreve, vá lá, escreve, sempre te faz bem... Mas ao escrever estou a mostrar-me, não a quem me conhece mas a quem nunca, provavelmente, me conhecerá para além disto. O que torna tudo muito mais simples.

Até amanhã, quando já só faltam 23 dias.

2006/04/03

1-1

Empate. Este fim-de-semana, sofri um golo, ou seja, resolvi descartar de vez da minha vida alguém que fez parte dela durante quase um ano. Foi uma baixa numa batalha que durava há meses. Eu que sim, ele que não, que não valia a pena. E eu sem acreditar. Não gosto de desistir à primeira, é contra tudo o que sou, deitar pessoas foras não é comigo. Ou não era, porque estou finalmente a compreender que tenho que levar menos tempo a perceber que não me merecem e que tenho que perdoar menos. Tudo o que senti por essa pessoa se foi num silêncio em resposta a um desesperado pedido de ajuda. Sob pena de parecer repetitiva, continuo a achar que um amigo não nos ignora, antes fica atento aos mais pequenos sinais. Por isso, adeus, J.

Sem que nada tivesse que ver com isto, mais uma vez este fim-de-semana percebi quais são as pessoas (neste caso, uma pessoa) com quem podemos contar. Sabe bem, poder ligar a alguém e dizer "vou aí", nem que seja para ficarmos as duas deitadas num sofá a tentar não adormecer enquanto vemos um filme de muito pouca qualidade. Serve, pelo menos, para distrair os olhos enquanto falamos de tudo e mais alguma coisa, de amores, desamores, experiências, aventuras passadas. Sabe bem falar, ter com quem falar. Obrigada, Bé, mais uma vez. Estás sempre lá. E eu aqui.

A vida é assim. Perde-se um, mas guarda-se outro. E já só faltam 24 dias.

2006/04/01

Bom dia, hoje

Nunca é fácil tomar decisões, principalmente quando elas põem em causa tudo o que pensámos até agora. Objectivos, carreiras, pessoas que encontramos pelo caminho, colam-se à nossa vida e pesam quando queremos pensar racionalmente. Até porque é deveras confortável reclinarmo-nos na rotina, sabendo o que nos espera em cada dia. Não há surpresas, não há sustos e vamos deixando correr, por mais que isso nos afecte psicologicamente, sem que muitas vezes demos por isso.

Mas há dias, como o de hoje, em que os acontecimentos são de tal forma brutais que o estrondo que nos provocam na alma nos desperta e faz reflectir. E então, ou fechamos os olhos e deixamo-nos continuar na mesma, num sono que já não é satisfatório, muito menos reparador, ou abrimos bem os olhos e olhamos bem à nossa volta, acabando por fixar o olhar bem em frente, ignorando quaisquer obstáculos.

Hoje foi um desses dias. Quem pensou que me dobrava, equivocou-se. As mentiras, os rodeios, as atitudes subreptícias e cobardes só têm o poder de me espicaçar, como a um touro que continua a investir enquanto se esvai em sangue na arena.

Bom dia, hoje, em que descobri um caminho. Agora, vou desbravá-lo.

Já agora, só faltam 26 dias para o dia 0.