2008/09/17

A Foz e a foz

É extraordinário como um simples pormenor pode mudar o sentido das coisas. Num post anterior, vejo-me a escrever "Foz" quando quero escrever apenas "foz" e logo causo em alguém saudades do sítio que não vê há tanto tempo. E se a palavra é a mesma, e o sentido o mesmo, o local e o sentimento definitivamente não o são.
A minha relação com a Foz começou bem antes de eu ter começado a dar ao Tejo a importância que dou hoje. Apesar de viver perto de Lisboa e de estar relativamente perto do rio a partir de uma certa altura, mantive-me sempre pela alturas de diferentes colinas de Lisboa, todas elas viradas para o "nosso" rio. A bem da verdade, a zona, para além dos diversos cais onde se apanhava o barco para ir para a praia quando ainda não tínhamos carro, não tinha muito para oferecer, para além de monumentos que, depois de vistos, estavam vistos.
Mas voltando ao que interessa, que é a Foz, a tal que eu fiz recordar, entrou na minha vida em 88. De repente, numa viagem, uma grande amiga minha conhece algumas pessoas do Porto e lá nos vemos nós, o grupo do costume, a caminho da Invicta para conhecermos os personagens num fim de semana de Dezembro. A partir daí, foi a paixão pela cidade, pelo rio, pelas cores, por tudo o que tinha que Lisboa não tinha e, sobretudo pela liberdade de estarmos ali totalmente livres, numa casa posta à nossa disposição, à boa maneira do Norte. Seguiram-se verões e mais verões em que, tradicionalmente, pelo menos uma semana era passada ali. E foi num desses dias que me apaixonei pela Foz.
Naquela tarde, o grupo (que foi aumentando com o tempo) dividiu-se. Uns queriam compras, na Baixa, os outros já não sei o que queriam, nem interessa. Só me lembro que — e esta imagem, que será para sempre a imagem que tenho da Foz, apesar de tudo o que lá vivi durante as várias visitas – ao regressar de eléctrico, a luz do pôr do sol (e todo aquele dia) criou uma magia tal sobre a água daquele rio, que é tão mais pequeno que o "nosso", que o tornou inesquecível.
Aqui, apesar de todos os dias ter um rio imponente como paisagem de fundo, de manhã à noite, com vista tanto para a ponte como para a foz, nada tem o espírito daquele momento. E mesmo sabendo que nada se repete, que os momentos se perdem e desfazem no instante em que acontecem, consigo guardar para sempre a imagem de um rio dourado quando o eléctrico começou a descer a rua em direcção à marginal, para nos deixar lá ao fundo, no Passeio Alegre, tão pertinho de casa.

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