2008/09/26

Eu tenho que me deixar de literaturas

e começar a ler só jornais cheios de factos concretos, provados e por provar. E manuais de coisas úteis, práticas, sensatas e sensaboronas que não engordem (que até os livros de cozinha me enchem de ideias idiotas sobre jantares a dois ou a três ou mais com alguém que consiga apreciar o que é bom).
E atenção, as revistas também não são boa companhia, porque nos dizem como ser bonitas e sensuais e boas namoradas e amantes e mulheres e mães e profissionais tudo ao mesmo tempo e afinal aquilo são só casos que acontecem a algumas pessoas apenas porque têm que acontecer e ninguém é igual a ninguém (e mesmo que copiemos as experiências dos outros elas serão só uma cópia fajuta de uma situação única vivida por outros).
Mas, na verdade, eu, que pouco ligo às revistas e gosto mesmo muito mais de livros, do papel dos livros, do cheiro dos livros, do rosto dos livros, das letras arrumadinhas em palavras, frases e capítulos dos livros e, acima de tudo, das histórias que os livros me contam, tenho mesmo é que os pôr de parte de vez, deitar as estantes pela janela, juntar-lhe as outras prateleiras cheias daquele papel gravado a imaginação e seguir com a minha vida.
Tudo porque, cada vez que tomo uma decisão importante, e desta vez foi a de desistir, de vez, dou de caras com uma frase que me deixa na dúvida e me faz voltar atrás. Damn, damn, damn you, Ian McEwan e o absolutamente fabuloso On Chesil Beach. "And that's how the entire course of a lifetime can be changed – by doing nothing"*. E foi aqui que fiquei com vontade de voltar a fazer alguma coisa. Apenas porque ainda tenho o direito de escolher a forma como quero mudar a minha vida e não consigo resignar-me a não fazer nada.
Foto daqui.
*"E é assim que o curso de uma vida inteira pode ser mudado – não fazendo nada."

Sem comentários: