2008/07/04

Maré

Há quem sinta que, por vezes, vinda do nada, abater-se sobre si uma tragédia e, frequentemente, o desespero chega a fazer desejar que a onda o arrastasse também. Para não enfrentar a perda, para não se deparar com a destruição do seu pequeno mundo, da sua praia, enfim, para não ter que reagir. Mas é preciso lembrar que o mar, e a vida com ele, são feitos de ciclos. Se o tsunami se abate sobre nós, sabemos à partida que não ficará para sempre; volta para trás, como qualquer onda, como todas as marés diariamente sobem e descem. E, como os marinheiros, devemos saber aproveitar o bom e o mau de uma e outra. Se não podemos fazer-nos ao mar, descansamos, reparamos as redes e o navio. Noutro dia pescaremos.
As águas que nos inundam também não trazem só destruição. Muitas vezes, ao baixarem, arrastam com elas destroços que não nos interessam e, algumas vezes, mais do que pensamos, trazem com elas tesouros que nunca pensámos encontrar. Basta-nos saber procurar e aproveitar para fazer da nossa praia o que sempre quisemos que fosse. Mesmo que para isso tenhamos, que por uns tempos, fechar as suas portas.
As minhas, apesar de não ter ocorrido uma catástrofe, apenas uma má maré inesperada, vão permanecer abertas. E continua a haver espaço para que, um dia, o mar me devolva o que me levou, quem sabe de uma outra forma qualquer que ainda não adivinho. Entretanto, vou recolhendo os destroços, plantando novas sementes e reorganizando o meu espaço. Sem me render.

1 comentário:

Summer Wardhani disse...

É bom saber que consegues ficar aí a fazer das tripas coração e com essa força toda, pelo menos aparente. Eu, sempre invejei as pessoas que o conseguem fazer. Espero que nunca nada nem ninguém te consiga tirar isso, querida !