2006/02/14

Rabujenta, eu?

Eles dizem que sim, que eu sou, mas eu acho que não. Rabujenta, eu? A quem fazem levantar da cadeira, sair da frente do meu jogo de computador, para olhar para um trabalho que supostamente também é meu para ver se a outra pessoa não se esqueceu do acento no i? Ainda se me pedissem opinião sobre a cor ou sobre a forma… Nah, como eu não sou fashion victim ficam a pensar que não consigo olhar para um círculo e dizer que um quadrado ficava melhor porque contrasta com a forma do logótipo… E no fim, o que contam são os bonecos. Só pensam nas aparências… Já os meus pais me dizem o mesmo, que eu devia ir ao cabeleireiro mais vezes, usar um saltinho alto e um fatinho porque sou dra… (que não sou, sou só licenciada, não tenho dessas peneiras). Bah, e isso lá tem importância? Pronto, eu sei que uma roupinha janota ajuda, mas quem é que no seu perfeito juizo aguenta um dia inteiro de saltos? Eu sei que o carro até está à porta, e que mal chego me sento, mas não compreendo por que é que tenho que sofrer? Repararam, escrevi por que e não porque. Essa é outra. Eu escrevo separado e vem um esperto qualquer e junta. Depois eu digo para separarem outra vez, porque assim é que é correcto. E dizem-me que não, que o cliente quer assim, e pronto, façam lá a vontade ao freguês, mas olhem lá que eu não assino isso. Cambada de idiotas, só porque têm dinheiro podem fazer tudo o que querem. Conheço muita gentinha assim, a quem põem em pedestais por causa do dinheirinho. Eu não, ora essa, era bem o que me faltava. Abrem a boca e vê-se logo o que são. Há-dem, deiam-me, a gente fomos a Roma… Coisinhas mais lindas saídas de boquinhas pintadas com bâton Chanel… Eu cá não tenho manias, sou o que sou… O que mais me chateia é que me bajulem por causa do dra antes do nome no livro de cheques. É que eu nem soube de nada, assinei os papéis e pedi para me irem abrir a conta. Vai na volta, o esperto lá do Banco resolve mandar pôr o título no cheque, nos cartões, por aí fora. Às vezes dá jeito, mas ter que aturar o sr dos livros, a cada trimestre, a bater-me à porta e chamar-me dra para cá, dra para lá, não dá. Só lhe falta fazer-me uma vénia. Eu já lhe pedi inúmeras vezes, não me chame dra que eu não gosto, mas ele responde sim dra de cada vez que fala comigo, a gaguejar, o que ainda é mais irritante. Com isto tudo acabo por ter pena da criatura, e lá vai mais um livro a contribuir para o caos lá de casa. E se não gastasse tanto em livros já podia ter comprado uma mobília completa para o quarto, afinal ganho tão bem. Mas o que é que eles têm a ver com isso? Rabujenta, eu? Eles é que me fazem assim.

Este post foi escrito para participar num desafio proposto pelo Isto não é o da Joana, que pelos vistos não teve participantes que chegassem. Por isso, publico eu.

2 comentários:

Uxka disse...

Eu quero muitas rabugentas como tu, mas olha que são poucos, somos todos tão formatadinhos que esquecemos que rabujar é essencial á boa saúde mental.
Rabuja, linda, que eu gosto!
Beijos

Uxka disse...

Minha querida, tens uma batata quente lá na tasca... se te apetecer, descasca-a. Beijinhos