2006/02/10

Publicitária? Naaaah!

Até há pouco tempo eu pensava que era copy. Não podia haver melhor: pagarem-me para escrever, e darem-me os meios necessários para o poder fazer bem feito, a tempo e horas e com qualidade. Mas agora já não sei. De há uns anos para cá, e principalmente nos últimos tempos, os genes do passado atacaram-me e eu estou a começar a sentir-me na pele dos meus antepassados. Se não, vejamos:
· Há dias que passo a encher chouriços - dão-me as coisas, amasso bem amassadinho e produzo uma belíssima fornada de balelas, sem ter tempo para pensar decentemente ou concentrar-me. "Faz-me lá um headline para isto, ou escreve mais um e-mail a dizer que vem aí uma novidade", ouço frequentemente (o meu avô paterno era salsicheiro).
· Outros dias, no meio dos chouriços, aparecem também fogos para apagar – "Tens que fazer isto para hoje ao fim do dia", sendo que isto é dito depois da hora de almoço (o meu avô materno foi bombeiro).
· Uma vez por outra, e cada vez com mais frequência, o meu monitor em 3ª mão recusa-se a ligar-se de manhã e, como o técnico está a alimentar outros computadores de meados da década de 90 com balões de soro, eu tento uma vez e outra e lá ligo a maquineta (o meu avô materno também foi mecânico).
· Em vez de grandes campanhas, de coisas bem pensadas, está-se sempre a aviar os clientes, como eles querem, quando eles querem, porque eles querem (a minha mãe e avó materna tiveram uma mercearia).
· Os trabalhos passam de mão em mão, ou seja, de criativo em criativo, para ver quem é que consegue chegar a uma solução, e passa-se o tempo a remendar o que já está feito, até chegar a uma coisa mais ou menos (a minha mãe a minha tia foram costureiras).
· Finalmente, com isto tudo, passa-se o dia num insuportável clima de cortar à faca, ou melhor, a cutelo (o meu pai teve um talho).
Se isto não são os antepassados a chamarem por mim, então não sei o que será. Talvez a crise, que é desculpa para tudo.

1 comentário:

Uxka disse...

Môri, por acaso não tens nenhum antepassado canalizador? Podias sempre mandá-los bardamerda.
Jinhos