2005/09/30

Arquivo Morto - Joao

Meados dos Anos 70, Serra de Monchique. Fomos buscar água à fonte e ele perguntou-me se gostava dele. Eu disse-lhe que sim, porque todos os meus sentidos já o diziam, e ele respondeu-me que também gostava de mim. Por isso, perguntou-me se queria ser a namorada dele.

Foram 4 anos em que crescemos juntos, a jogar o jogo dos sentidos. Um roçar de pele era um arrepio, um olhar profundo era um nó no estômago, na garganta, no corpo todo. Um beijo era o resto do mundo deixar de existir. Acabou, porque tinha que acabar, porque o meu orgulho e o meu ciúme assim o entenderam, e porque tinha começado a ver-me a mim própria com outros olhos.

Assisti ao casamento do João e, durante toda a cerimónia, esperei que o padre perguntasse se havia alguém que tinha alguma coisa contra aquela união. Mas ele não perguntou e eu não teria coragem. Hoje em dia, não podendo dizer que somos amigos, partilhamos ainda a cumplicidade do nosso segredo. E eu ainda espero por alguém que olhe tão dentro de mim como ele olhava, e que me faça sentir da mesma forma.

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