2005/06/02

Bons ares

De início, quando comecei esta página, não queria recorrer a citações. Mas não resisti a incluir a seguinte aqui, pois este excerto está, de certo modo, por trás de tudo o que me levou a dar o nome a este blog.
Saiu de um livro, que li há muito tempo, escrito por Anita Brookner em 1981. Em “Olhem para mim”, a personagem principal é uma bibliotecária orfã, sem qualquer característica de beleza que a diferencie dos demais e que, devido à sua suposta insignificância, está destinada a ficar sozinha para sempre. Ao observar o homem por quem se apaixona, e a mulher que acaba por conquistá-lo, ela reflecte assim:

“(…) já reparei que homens muitíssimo simpáticos, e mulheres muitíssimo belas, exercem sobre os outros um poder que eles próprios não têm necessidade, ou tempo, de analisar. Pessoas como o Nick atraem admiradores, adeptos, seguidores. Também atraem pessoas como eu: observadores. Nunca se está bem à vontade com essa gente, porque são como soberanos e é preciso diverti-los. Facetas como o valor ou o mérito raramente recebem grande atenção da sua parte, porque, com o poder de escolha que a sua aparência lhes confere, podem mudar de ideias sempre que lhes dê na cabeça. Devido ao seu largo âmbito de possibilidades, o leque da sua atenção é muito limitado. E a sua beleza acostumou-os a uma gratificação contínua.”

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