2008/08/25

"Mas por mais bela que seja cada coisa / tem um monstro em si suspenso."

E é assim que temos que aproveitar cada momento no pressuposto da sua efemeridade. Ter sempre presente que, um dia, aquilo que nos fez felizes, nos magoará.

No fundo do mar há brancos pavores
Onde as plantas são animais
E os animais são flores.

Mundo silencioso que não atinge
A agitação das ondas.
Abrem-se rindo conchas redondas,
Baloiça o cavalo-marinho.
Um polvo avança
No desalinho
Dos seus mil braços,
Uma flor dança,
Sem ruído vibram os espaços.

Sobre a areia, o tempo poisa
Leve como um lenço.

Mas por mais bela que seja cada coisa
Tem um monstro em si suspenso.
Fundo do Mar, Sophia de Mello Breyner Andresen

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