2006/05/19

Elvira e Sebastião

Por mim, ficava aqui mais uma horita, apesar de já ser tarde. Mas estão a chamar-me para dormir. Já lá estão, na minha cama, desde a hora do costume, desde a hora em que os seus pais adoptivos os habituaram ao sossego. Esta casa já foi a deles, tinham apenas um mês de idade. Não deveriam estranhar, mas estranham.

Dizem-nos independentes, infiéis ao dono. Mentira, não pode haver maior mentira. Pelo menos neste caso. A dependência é total, a confiança também. Respeito, idem. Se os chamo, vêm. Se me chamam, vou. Se têm medo, pedem o meu auxílio. Se lhes ralho, obedecem.

Quando a filha da Elvira nasceu, ela pediu a minha ajuda ao primeiro sinal de parto iminente e, mais tarde, entregava-me a cria para que eu a protegesse. O Sebastião roça a cabeça nas minhas mãos quando lhe peço um beijinho. E, assim, eu faço tudo o que eles me pedem. O entendimento é total.

A Elvira e o Sebastião vieram comigo quando mudei de casa. E um dia, porque sei que gostam de liberdade, deixei-os ir de férias com os avós. Campo, ar livre, liberdade. E companhia todo o dia. Nunca mais voltaram, a não ser temporariamente, como agora. Tenho saudades, mas lá, onde têm mimo o dia inteiro, onde mimam ainda mais que a mim, eles são mais felizes. E eu fico feliz por eles.

Vou para a cama. Eles estão à minha espera.

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