Traição
“Arrumei os amores, é a primeira regra da vida – saber arquivá-los, entendê-los, contá-los, esquecê-los. Mas ninguém nos diz como se sobrevive ao murchar de um sentimento que não murcha. A amizade só se perde por traição – como a pátria. Num campo de batalha, num terreno de operações.”
Fazes-me falta, Inês Pedrosa
Num livro que estou a ler, deparei-me com uma afirmação que fala sobre a facilidade com que, por medo ou egoísmo, o verniz da camaradagem entre amigos desaparece. E é assim, realmente, que se descobre quem é e quem não é nosso amigo.
Os amigos não traem. Os amigos apoiam-nos quando estamos em baixo, incondicionalmente. Os amigos preocupam-se, perguntam, oferecem ajuda. Os amigos não saem a correr para nos acusar.
O medo, a insegurança, o egoísmo levam-nos a atitudes irracionais e a deitar cá para fora o que há de pior em nós. É o salve-se quem puder, passando por cima de tudo e de todos.
Na empresa em que trabalho, vive-se um ambiente de medo, de injustiça, de totalitarismo, de quase ditadura. Sussurros, portas fechadas, segredos são parte do dia-a-dia. No meio disso, não se admite que alguém possa pensar ou sofrer por alguma coisa que não tenha que ver com a empresa.
Sim, tudo indicava que eu estava desmotivada. Amei, arrisquei, perdi. E essa derrota levou-me a vontade de sorrir e trouxe-me o desejo de desistir de tudo. Quem me acusou não quis saber quantas lágrimas chorei, quantas noites de sono foram interrompidas pela saudade. A vaidade, o egoísmo, o medo sobrepuseram-se a qualquer outro sentimento.
Agora que, depois de estalado, o verniz desapareceu completamente, é mais fácil encarar essa pessoa de frente. De quase amigas, somos apenas colegas, suportando-nos enquanto tal. Perdoo, sim, porque se o não fizesse, esse sentimento me envenenaria cada dia. Mas nunca deixarei de sentir que fui traída.
2 comentários:
Rosmaninho, este texto e fabuloso. Gostei mesmo muito.
Concordo com tudo.
Bjs
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