Perdida
Deste-me o rumo que eu procurava. Deste-me o calor da tua pele, mataste-me a sede de corpo que o meu corpo tinha, levaste-me a acreditar que nada tem fim quando somos felizes. Vivemos aqueles dias, que pareceram eternos, saciando-nos de nós e saciando o desejo que nos assolava a alma. Esquecemos o mundo, confiámos que aquele vento que nos empurrava seria sempre uma brisa amena. E afinal...
Nunca entendi, e nunca entenderei o que se passou. Teremos esgotado a paixão? Terás tu esgotado o desejo, saciada a fome? Que te fiz eu? Que me fizeste? De onde veio o ciclone que agitou o leito do nosso mar? Rasgaram-se as velas, quebrou-se-me a alma. Partiu-se-me a vida ao meio, esqueci o antes de ti e agora só vivo o depois, sem ti e sem rumo. Só sei que nenhuma brisa te trará de volta, e que, perdida no meio deste mar branco, ninguém me encontrará. Nem eu me encontrarei.
Sem ti, meu astrolábio de desdita, minha caravela de esperança, mais perdida fico, mais perdida estou.
Eis a tua história, Hipatia, inspirada num desenho do Gaivina.
4 comentários:
São lindas as tuas palavras, como sempre.
beijo
Se continuarem todas a escrever assim, não vou parar de desenhar...
mais tarde, contarei no "Voz em Fuga" a verdadeira historia do desenho
Não há rumos perdidos, minha querida :) Apenas inversões de marcha e novos caminhos que se perfilam em direcção a outros horizontes.
Obrigada!
Bom texto, bons desenhos...
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