Eu queria ser ilunga
Ilunga é uma palavra de uma língua falada na República Democrática do Congo e, aparentemente, a palavra de mais difícil tradução em todo o mundo. Descreve aquela pessoa que está disposta a perdoar qualquer abuso pela primeira vez, a tolerá-lo uma segunda, mas nunca uma terceira. Ora, eu queria ser assim, mas não consigo. Caio à primeira, à segunda desconfio, mas caio, à terceira volto a cair, à quarta já se sabe que acontece o mesmo e por aí fora, numa sucessão de quedas que não matam mas moem.
O pior de tudo é que eu sei perfeitamente por que é que isto acontece - é apenas porque eu nunca sei o motivo da queda. Ando para ali, vou tropeçando em mal-entendidos, até que enfio o pé numa desilusão e lá vou eu. O verdadeiro problema é que acabo sempre por continuar a não olhar bem para onde ando, de tão iludida que estou com alguma felicidade que possa sentir. E, depois de cair, levanto-me e esqueço-me de perguntar por que motivo me passaram essa rasteira.
Depois de tanta nódoa negra, eu já só queria ser ilunga.
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