2005/10/27

Diz qualquer coisa que eu te sinta!

O dia de te dizer isto ainda não chegou, porque ainda não sei quem és, ou talvez saiba e tu não, ou antes pelo contrário. Podemos ter-nos desencontrado por qualquer motivo, ou encontrado sem saber ainda que éramos um nós. E embora eu não saiba quem tu és, quero dizer-te já o que sinto por ti:

Amo como o amor ama.
Não sei razão para amar-te mais que amar-te.
Que queres que diga mais que te amo,
Se o que quero dizer-te é que te amo?
Não procures no meu coração...

(...)

Se te vejo, não sei quem sou: eu amo
Se me faltas, (...)

Quando te vi, amei-te já muito antes.
Tornei a achar-te quando te encontrei.
Nasci para ti antes de haver o mundo.
Não há coisa feliz ou hora alegre
Que eu tenha tido pela vida fora,
Que não fosse porque te previa,
Porque dormias nela tu futuro,
E com essas alegrias e esse prazer
Eu viria depois a amar-te. Quando,
Criança, eu brincava a ter marido
Me faltava crescer e o não sentia
O que me satisfazia eras já tu,
E eu soube-o só depois, quando te vi,
E tive para mim melhor sentido,
E o meu passado foi como uma estrada
Iluminada pela frente, quando
O carro com lanternas vira a curva
Do caminho e já a noite é toda humana.

Tens um segredo? Diz-mo, que eu sei tudo
De ti, quando mo digas com a alma.
Em palavras estranhas que m'o fales
Eu compreenderei só porque te amo.
Se o teu segredo é triste, eu saberei
Chorar contigo até que o esqueças todo.
Se não o podes dizer, diz que me amas,
E eu sentirei sem querer o teu segredo.

Amor, diz qualquer coisa que eu te sinta!

Este excerto de Fausto Fernando Fragmentos, adaptado de F. Pessoa, é dedicado à pessoa que eu vier a amar.

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