Arquivo Morto - Carlos
Carlos. Voltar à Rua do Sacramento não podia deixar de me fazer lembrar dele. O Carlos, que provocou a segunda grande mudança na minha vida. Meia dúzia de palavras e a miúda de estilo indefinido, um pouco a atirar para o beto, passou a ser uma jovem moderninha que só vestia de preto e frequentava o Bairro Alto. Eu era caloira, ele estava a repetir o primeiro ano, e para mim, ser notada por alguém mais velho e tão popular, foi a melhor coisa que podia ter acontecido.
Seguiram-se dois anos, quase três, de tão grande cumplicidade, que toda a gente, incluindo professores, assumia que namorávamos. O que nunca aconteceu. No entanto, não deixámos de cair em tentação várias vezes para, no dia seguinte, fazermos de conta que nada se tinha passado. Junto dele, sentia-me importante, especial, diferente de todas as outras.
Eu acabei o curso no tempo previsto e o Carlos, mais uma vez, ficou a repetir o ano. Ainda nos vimos algumas vezes depois, mas acabámos irremediavelmente por nos afastar. Há alguns anos, num encontro de amigos da altura, vi-o novamente, o mesmo de sempre, mas já nada dizíamos um ao outro. No entanto, quando entrei hoje na Rua do Sacramento, vi-me nitidamente a entrar com ele, enquanto nos cruzávamos com o sorriso cúmplice de uma professora comum.
1 comentário:
Crazy Carlos... saudades.
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