Vá lá!
Escreve, vá lá, escreve qualquer coisa. Precisas de o dizer, diz. Pega nas palavras e põe-nas no papel.
Estou aqui há horas, nesta luta. Acontece-me todos os dias. Venho pelo caminho a construir a história, o texto, o desabafo. Falo sozinha enquanto conduzo, preciso de lhes ouvir o som, tal como preciso de as ver preto no branco para ver se fazem sentido. Porque há umas que não ficam bem ao pé das outras, e outras que se repetem sem sentido. Guardo tudo, num cantinho, estava lindo o que pensei pelo caminho, enquanto a única coisa em que me concentro é na traseira do automóvel da frente e a proximidade do cruzamento onde viro.
Quando chego a casa, uma casa vazia e silenciosa, é o vazio também. Foram-se as ideias, fica apenas a vontade de um toque na campainha, a campainha de um telefone a tocar para me dizerem "posso ir aí, quero ver-te, tenho saudades..." Estou farta deste exílio, desta dormência, destes silêncios. Será que ninguém, para além da minha família, se lembra mesmo de que eu existo?
Será por culpa de terem entranhado em mim a ideia de que não devo incomodar os outros que eu também não consigo procurá-los? Terá que haver uma culpa ou as coisas são mesmo assim?
E então vem a voz, escreve, vá lá, escreve, sempre te faz bem... Mas ao escrever estou a mostrar-me, não a quem me conhece mas a quem nunca, provavelmente, me conhecerá para além disto. O que torna tudo muito mais simples.
Até amanhã, quando já só faltam 23 dias.
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