2006/04/25

Girls' Night In

Dantes, era a excitação da Girls' Night Out. Combinar, escolher a roupa, aprontar, sair pela noite fora para ver, ouvir, dançar e conhecer... Todos os santos fins-de-semana (que começavam à 4ª ou à 5ª) e vésperas de feriado, sem excepção, lá íamos nós, primeiro para o Bairro, mais tarde para a 24...

Agora, veste-se a roupa mais confortável possível, sem pensar muito no assunto, pega-se no carro e, de ano a ano, às vezes talvez um espaço de tempo maior, há uma Girls' Night In. Janta-se, contam-se num instante as últimas novidades, que são poucas, graças à rotina e parte-se para os novos assuntos que ocupam as nossas vidas: em vez de sonhos, problemas no trabalho, em vez de homens, hérnias, cálculos biliares e afins. A meio, sai-se para a varanda e assiste-se ao espectáculo que nos conseguiu reunir: o fogo de artifício em Almada, para comemorar o 25 de Abril. Ficamos à janela, longe da confusão e dos amassos do povo excitado pelo discurso da autarca e pelo concerto à borla, desejamos que seja bonito mas acabe depressa porque está frio e aquilo é pago com os nossos impostos e voltamos para dentro. Mais sofá, mais conversa, um concerto de Zeca Afonso nos anos 70, entre bocejos e olhos semiabertos... Mais um programa sobre o antes e o depois do adeus...

— Eu fiquei toda contente, naquele dia a minha mãe disse-me que não ia à escola porque havia revolução... tinha 8 anos, aliás, ia fazê-los dali a 2 dias... Usei um vestido vermelho, cujo tecido parecia um morango...
— Como é que tu tinhas 8 se eu tinha 11? Eu nasci em 66, e tu és da minha idade...
— Tinhas 11 anos? E nasceste em 66?
— Realmente, estava aqui a pensar como é que tinha 11 anos e ainda estava na 3ª classe...
— Sabes que mais? Vamos embora, vamos dormir que já não sabemos o que dizemos.

Eu até posso não sentir que estou prestes a abandonar os trinta, e não sinto mesmo, mas que sem eles nada disto aconteceria, é incontestável. E só falta pouco mais de um um dia e meio.

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