2008/10/07

Silêncio

Há alturas em que devíamos poder hibernar e, assim, evitar aquelas coisas que vêm em rajadas incómodas. Depois de uma otite que durou mais de um mês, intervalada por uma constipação que a deixou para trás até regressar numa noite para esquecer, eis que acordo numa segunda de manhã com um peso terrível no peito, dores no corpo e outros mal-estares sobre os quais não vou entrar em pormenores. Depois de uma manhã a trabalhar, porque não podia deixar de ser, fui à procura de ajuda. Ninguém disponível, dia de trabalho e isso. Hospitais cheios, ressaca das greves que parece que houve, centros de saúde idem, chama-se, finalmente, o médico a casa, alguém há-de vir para ir à farmácia. Entretanto, já me tinha arrastado até ao supermercado, que os amigos trabalham até tarde e vivem todos longe daqui. Quase três horas depois da chamada, chega a médica, simpática mas muito pragmática: "É viral, não se preocupe. Toma isto e isto e isto e há-de passar. Coma pouco, leve e devagarinho, para não vir tudo fora." E aguente, que ela não disse mas sei que pensou.
Resultado: Um dia inteiro em casa, sem vontade de fazer o que quer que seja senão ver episódios repetidos de séries, e continuar a tossir desesperadamente, na ânsia de tirar o peso do peito. O pior, mesmo, é já ter reparado que mais um ou dois ataques de tosse como os que tenho tido provocarão a inevitável revolta das cordas vocais, que já estão a dar sinal de que irão fazer greve não tarda. Anime-se quem já não me pode ouvir, desengane-se quem pensa que me calarei.
Estes dedos não param. E amanhã vou trabalhar, porque não consigo ficar em casa.

2008/10/03

Lama

Desde que vi isto hoje de manhã ainda não consegui desviar o pensamento do assunto, no meio de risos que se devem tanto ao divertimento como ao ter ficado embasbacada com a imagem que aquilo despoletou. Paradinha à espera de entrar na rotunda, enquanto um dos muitos camiões do costume fazia a manobra da ordem, àquela hora da manhã (eu já devia estar a contar com isso todos os dias, mas pronto, custa-me sempre sair de casa e chegar a horas é uma coisa que eu não compreendo de todo quando, de facto, nunca me deixam sair a horas), dou com os olhos num cartaz que anunciava um evento de fim de semana:
Loures
4 e 5 de Outubro
Camião Anti-Stress
Gajas na Lama
Tuning
Desfile de Néons
Isto não teria nada de mais não fosse a expressão Gajas na Lama. A fazer o quê, credo? A ser arrastadas? A lutar? A despir-se? Gajas, ainda por cima? O que é que eles querem dizer com gajas? Será alguma categoria especial de mulher que eu ainda não conheço, apesar de utilizar a expressão variadíssimas vezes em conversas informais?
Se alguém tiver dicas que me iluminem, eu agradeço. E, entretanto, se alguém estiver mesmo com falta de imaginação sobre opções para o fim de semana, pode passar por lá e depois contar. Quanto a mim, é mais filmes.

2008/10/02

E porque hoje é dia de pessoas especiais,

um post especial para um grande amigo, que sempre o será, se de mim depender. E porque dizer mais seria quase desvendar quem é, e eu não quero, deixo-lhe algumas palavras de outros que sei que para ele fazem todo o sentido. Com um beijinho de parabéns, evidentemente.

MusicPlaylist

Ticking away the moments that make up a dull day
You fritter and waste the hours in an off hand way
Kicking around on a piece of ground in your home town
Waiting for someone or something to show you the way

Tired of lying in the sunshine staying home to watch the rain
You are young and life is long and there is time to kill today
And then one day you find ten years have got behind you
No one told you when to run, you missed the starting gun

And you run and you run to catch up with the sun, but its sinking
And racing around to come up behind you again
The sun is the same in the relative way, but youre older
Shorter of breath and one day closer to death

Every year is getting shorter, never seem to find the time
Plans that either come to naught or half a page of scribbled lines
Hanging on in quiet desperation is the english way
The time is gone, the song is over, thought Id something more to say

Home, home again
I like to be here when I can
And when I come home cold and tired
Its good to warm my bones beside the fire
Far away across the field
The tolling of the iron bell
Calls the faithful to their knees
To hear the softly spoken magic spells.

2008/10/01

Nem tudo é mau II

Agora que descobri o que traz os homens ao meu blog (coisas como televisores LCD e, evidentemente, futebol), não resisto a contar que hoje fui ao futebol, ver o meu Sporting a ganhar ao Basileia para a Liga dos Campeões.
E nem tudo é mau, digo eu, porquê? Porque a minha empresa, da qual por acaso o Sporting Clube de Portugal é cliente (e para o qual eu trabalho arduamente), tem um camarote Corporate com 12 lugarzinhos à nossa disposição. Vai daí (o que eu gosto desta expressão, embora não a use muito), estava eu de saída e pronta a dedicar-me de alma, corpo e coração a uma aula de fitness (que há que manter o corpo em forma e lutar para tonificar o músculo do adeus), quando descubro que há lugares livres para assistir ao jogo. Não hesitei. Peguei no carrito e lá vou eu atravessar Lisboa, de Belém ao Lumiar, num frenesim de trânsito impossível. E não é que valeu a pena? Jantarinho de borla (lá tive que partilhar a mesa com o boss e os dois filhos, mas ele acha graça à minha paixão pelos leões, nem custa muito), bom vinho e dois a zero. Dois a zero ao Basileia e venha o próximo, que tem um nome que me parece ser Shaktar (será?).

2008/09/30

Às vezes

quero escrever e não consigo. Às vezes é porque me faltam as palavras no geral, se bem que isso aconteça menos vezes que o faltarem-me as palavras em português, uma língua tão rica e no entanto tão matreira que torna difícil traduzir coisas tão simples como enjoy, indulge e bliss sem que estas ganhem um segundo sentido malicioso.
Às vezes, ainda, não escrevo porque é melhor não o fazer, porque os sentimentos são tão fortes que me trariam toda para aqui, com o meu amor, que é aceitável, e as minhas raivas, de que cedo me arrependo (e frequentemente não apago antes que quem não os deve ver os veja). Outras vezes, é tão só porque o redemoinho de emoções não tem forma de parar e eu corro o risco de ser inadvertidamente atirada para o lado contrário de onde quero ir.
E às vezes, aquelas que custam mais, é porque não me deixam.

2008/09/29

Sublime

era a brisa que corria há pouco, quando desci, e que exalta suavemente a chegada do Outono.

2008/09/26

Já está


lá em casa, e eu mortinha por ir a correr para lá. Como dizia ontem, pouco antes da meia noite, nem tudo é mau, porque a noitada garantiu-me o direito de ir para casa mais cedo e poder passar por lá e dar-lhe uma espreitadela antes da saída da sexta-feira à noite. Não é linda? (desculpem lá, mas como eu também sou o gajo lá de casa tenho direito a fazer cenas destas).

Eu tenho que me deixar de literaturas

e começar a ler só jornais cheios de factos concretos, provados e por provar. E manuais de coisas úteis, práticas, sensatas e sensaboronas que não engordem (que até os livros de cozinha me enchem de ideias idiotas sobre jantares a dois ou a três ou mais com alguém que consiga apreciar o que é bom).
E atenção, as revistas também não são boa companhia, porque nos dizem como ser bonitas e sensuais e boas namoradas e amantes e mulheres e mães e profissionais tudo ao mesmo tempo e afinal aquilo são só casos que acontecem a algumas pessoas apenas porque têm que acontecer e ninguém é igual a ninguém (e mesmo que copiemos as experiências dos outros elas serão só uma cópia fajuta de uma situação única vivida por outros).
Mas, na verdade, eu, que pouco ligo às revistas e gosto mesmo muito mais de livros, do papel dos livros, do cheiro dos livros, do rosto dos livros, das letras arrumadinhas em palavras, frases e capítulos dos livros e, acima de tudo, das histórias que os livros me contam, tenho mesmo é que os pôr de parte de vez, deitar as estantes pela janela, juntar-lhe as outras prateleiras cheias daquele papel gravado a imaginação e seguir com a minha vida.
Tudo porque, cada vez que tomo uma decisão importante, e desta vez foi a de desistir, de vez, dou de caras com uma frase que me deixa na dúvida e me faz voltar atrás. Damn, damn, damn you, Ian McEwan e o absolutamente fabuloso On Chesil Beach. "And that's how the entire course of a lifetime can be changed – by doing nothing"*. E foi aqui que fiquei com vontade de voltar a fazer alguma coisa. Apenas porque ainda tenho o direito de escolher a forma como quero mudar a minha vida e não consigo resignar-me a não fazer nada.
Foto daqui.
*"E é assim que o curso de uma vida inteira pode ser mudado – não fazendo nada."