2006/01/29

Atitude

Esta vem com o atraso de uma semana, mas eu gosto de pensar antes de falar e às vezes levo um tempo exagerado (muitas vezes, só fico a perder). Mas aqui vai.

Em Fevereiro do ano passado, se não me engano, na 2ª feira a seguir ao dia das eleições, os meus colegas de trabalho chegaram ao bar da empresa para o primeiro café da manhã, viraram-se para mim e disseram: "Então ó fascista, estás contente?! Perdeste!". Eu só respondi que até estava contente, porque finalmente os senhores da esquerda iam poder provar que eram melhores. Tinham tudo nas mãos, com uma maioria absoluta, e agora é que era ver o país começar a mudar para melhor. É o que estamos a ver, mas todos merecemos uma oportunidade.
Na semana passada, depois de ter passado todo o período de campanha eleitoral a ouvir críticas àquele que todos já sabíamos que ia ser o novo PR, a ser crucificada por defender aquele candidato, a ouvir disparates como "vai ser terrível se ele ganhar, porque vai fazer isto e aquilo" de quem não tem a mínima noção das funções de um PR, cheguei à empresa e... nada. Nem uma palavra. Nem um "Deves estar contente, ó fascista!". Durante uma semana inteira fiquei à espera de ouvir alguém comentar a vitória de um e a derrota de outros. Nada. Silêncio.
Gente engraçada, esta. Só dispara contra quem está desarmado.

Traição

“Arrumei os amores, é a primeira regra da vida – saber arquivá-los, entendê-los, contá-los, esquecê-los. Mas ninguém nos diz como se sobrevive ao murchar de um sentimento que não murcha. A amizade só se perde por traição – como a pátria. Num campo de batalha, num terreno de operações.”

Fazes-me falta, Inês Pedrosa

Num livro que estou a ler, deparei-me com uma afirmação que fala sobre a facilidade com que, por medo ou egoísmo, o verniz da camaradagem entre amigos desaparece. E é assim, realmente, que se descobre quem é e quem não é nosso amigo.
Os amigos não traem. Os amigos apoiam-nos quando estamos em baixo, incondicionalmente. Os amigos preocupam-se, perguntam, oferecem ajuda. Os amigos não saem a correr para nos acusar.
O medo, a insegurança, o egoísmo levam-nos a atitudes irracionais e a deitar cá para fora o que há de pior em nós. É o salve-se quem puder, passando por cima de tudo e de todos.
Na empresa em que trabalho, vive-se um ambiente de medo, de injustiça, de totalitarismo, de quase ditadura. Sussurros, portas fechadas, segredos são parte do dia-a-dia. No meio disso, não se admite que alguém possa pensar ou sofrer por alguma coisa que não tenha que ver com a empresa.
Sim, tudo indicava que eu estava desmotivada. Amei, arrisquei, perdi. E essa derrota levou-me a vontade de sorrir e trouxe-me o desejo de desistir de tudo. Quem me acusou não quis saber quantas lágrimas chorei, quantas noites de sono foram interrompidas pela saudade. A vaidade, o egoísmo, o medo sobrepuseram-se a qualquer outro sentimento.
Agora que, depois de estalado, o verniz desapareceu completamente, é mais fácil encarar essa pessoa de frente. De quase amigas, somos apenas colegas, suportando-nos enquanto tal. Perdoo, sim, porque se o não fizesse, esse sentimento me envenenaria cada dia. Mas nunca deixarei de sentir que fui traída.

2006/01/25

Dias de raiva

Não estou desaparecida. Estou viva, ainda, movo-me, ou melhor, arrasto-me para fora de casa todos os dias, respiro, muitas das vezes fundo para calar o que me apetece dizer. Também ainda me rio, algumas vezes, e sorrio sempre que há alguma coisa que me faz feliz. Mas não consigo escrever, ou pelo menos, ser racional no que escrevo, pois todas as injustiças que tenho presenciado, o ambiente de ditadura em que trabalho actualmente, sempre com a desculpa da crise, não deixam que seja moderada. Se escrevesse agora, teria que espetar facas, descobrir carecas, denunciar quase-crimes. E, também eu, com a desculpa da crise, tenho que me calar.
Aqui fica, portanto, a razão do meu silêncio. Melhores dias virão. Até já.

2006/01/05

Idade

"How old would you be if you didn't know how old you are?"
Satchel Paige

À falta de mais, hoje é dia de citações, e esta tem tudo que ver com alguns relacionamentos que tenho estabelecido ultimamente. Será que a idade é mesmo importante? Aqui há tempos, um colega meu de quem me tornei amiga disse que nunca pensou que uma pessoa da minha idade, 10 anos mais velha que ele, alinhasse em certas coisas como alinho. Novamente, as aparências, os preconceitos, os filtros que nos impõem desde que nascemos, são postos em causa. Ainda bem, que já é tempo.

Eu também

A agitação dos meus dias nesta primeira semana de 2006 tem levado a minha inspiração para outros caminhos. Por isso, aqui vai uma citação do mestre, que não posso deixar guardada na gaveta.

"Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes mas não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo. E que posso evitar que ela vá à falência. Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver, apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise. Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história. É atravessar desertos fora de si mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma. É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida. Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos. É saber falar de si mesmo. É ter coragem para ouvir um "não". É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta. Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo..."

Fernando Pessoa